A cada nova leitura uma descoberta. Toda vez que escrevo uma dica, não é da digitação pra fora kkkk, só indico livros que realmente gosto e que acho que enquadram no propósito da coluna, que é divulgar os escritores brasileiros e mostrar que dá sim pra encaixar literatura nacional na nossa meta de leitura. Melhor ainda quando a história se passa em Minas. Melhor ainda quando é possível se reconhecer na história, a gente não precisa nem fazer esforço para imaginar os personagens, os cenários, valorizar o quintal de uma casa do interior e o prazer que é saborear uma fruta direto do pé. Essas sensações, a escritora Ana Rapha Nunes conseguiu despertar com a leitura de “Mariana”, assim como outras dicas que já dei por aqui, como “A Mocinha do Mercado Central” da escritora Stella Maris e “O Grande Mentecapto” do escritor Fernando Sabino.
Ana Rapha é carioca, mora em Curitiba e sabe tudo do interior de Minas Gerais porque descreveu muito bem e com uma riqueza de detalhes a simplicidade da vida na zona rural de Timóteo (que eu conheço), e a beleza dos pontos turísticos da cidade histórica de Mariana que tem o mesmo nome da protagonista (isso me incomodou um pouquinho). “Mariana” é o segundo livro da escritora e antes mesmo de completar um ano já está na 5º edição. Assim como o seu primeiro livro, “A Lua Que Eu Te Dei”, “Mariana” também vem sendo adotado por escolas para ser lido e trabalhado em sala. Excelentes escolhas para uma leitura agradável e de relevância para as crianças.
O livro conta a história de Mariana, uma menina linda de cabelos cacheados, que ama brigadeiro, tem medo de fantasma e adora subir na laranjeira do quintal do vizinho. É uma criança que vive o restinho da infância em sua plenitude. Mora com a mãe Fátima, uma dona de casa compreensiva e amorosa e com o pai Etevaldo, caminhoneiro que sonha em dar uma melhor condição de vida para a família. Por isso quando ele recebe uma proposta para trabalhar em outra cidade, não pensa duas vezes e propõe a mudança para as duas. A princípio, Mariana não quer sair da cidade onde nasceu e perder a companhia dos colegas e do seu primo e melhor amigo Bartolomeu, mas acaba concordando com a promessa do pai de levá-la a uma viagem para conhecer o mar (um sonho bem mineiro).
Praticamente todo o livro é sobre o florescer da personagem Mariana. A adaptação na cidade nova, o dia a dia da família, surgimento de novas amizades e o amor por um coleguinha da escola, além dos planos para o futuro interrompidos no dia 5 de novembro de 2015. Achei bem interessante como a escritora mostra que naquele fatídico dia as pessoas viviam suas vidas calmamente, como estamos agora lendo essa resenha. Uns estavam na escola ou no asilo, outras assistindo TV no sofá de casa, na farmácia comprando vitaminas para a filha ou simplesmente jogando conversa fora na pracinha da cidade, quando foram terrivelmente atingidas pelo mar de lama da barragem de rejeitos de mineração da mineradora Samarco. A família de Mariana de repente, assim como tantas outras, viu sua casa, sua história, seus sonhos e suas lembranças desaparecem quando a lama da mineradora atravessou o seu caminho. Lembrando que trata-se do maior desastre ambiental do Brasil. Cerca de 62 milhões de metros cúbicos de lama de rejeito de minério vazou de uma barragem de mineração e riscou do mapa o distrito de Bento Rodrigues. Matou 19 pessoas, entre funcionários da mineradora e moradores do distrito de Bento Rodrigues. Até hoje o corpo de uma das vítimas não foi achado e o bebê que uma moradora da cidade esperava não entrou na contabilização das mortes.
Com parágrafos e capítulos curtos, uma linguagem simples e popular, Ana Rapha construiu o enredo de “Mariana”. O livro tem 112 páginas, é bem escrito, e apesar de não aprofundar muito na história e na tragédia (daqueles adultos esperam livrões), consegue passar a mensagem de perseverança e coragem para enfrentar o inesperado que espreita nossas vidas a todo o momento. É um livro voltado para o público infanto-juvenil, desses que a gente lê em uma tarde, mas fica refletindo por dias.
Motivos para ler “Mariana”, da escritora Ana Rapha Nunes:
- Fácil de ler;
- História mineira;
- É pequeno;
- Tem lição de vida;
- Homenagem às vítimas da maior tragédia ambiental do Brasil.
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