Disco foi lançado após o sucesso do EP “Pela Internet 2”; Dicursos da vida, família e sua visão da sociedade ‘digital’ marcam o álbum
Sempre inovando, Gilberto Gil, um dos maiores expoentes da música brasileira vem deixando claro que se existe um amor incontrolável em sua vida, ele se chama com certeza música. Prova disso foi que após o sucesso do “EP Pela Internet 2” (lançado recentemente), o artista já tinha algumas cartas na manga para fazer o seu novo álbum e foi exatamente isso que ele fez. “OK OK OK (2018)” foi lançado há menos de um mês já mostrando que mesmo ficando mais velho (nos seus 76 anos de vida), Gil está cada vez mais antenado nos fatos e na realidade social/cotidiana do país. O álbum fecha o ciclo de oito anos sem lançar um trabalho com músicas inéditas.
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Com uma menção às Redes Sociais e seus conflitos, “OK OK OK (2018)” traz 15 canções bem trabalhadas trazendo violão afinado e o estilo inconfundível de Gilberto Gil. Que diga de passagem a primeira faixa “OK OK OK” que intitula o álbum. Com uma visão bem ampla sobre os conflitos criados em Redes Sociais, Gil deixa claro que já entendeu como funciona o sistema na internet. “OK OK OK OK OK OK Já sei que querem a minha opinião. Um papo reto sobre o que eu pensei. Como interpreto a tal, a vil situação. Penúria, fúria….E eis que alguém me pede: Encarne o mito. Seja nosso herói, resolva tudo”.
A partir daí, Gilberto Gil traz a canção “Na Real” (ainda com pegadas da internet), mas em “Sereno”, uma letra mais “íntima” e “familiar” de um cantor que já tem muitos netos e bisnetos. Em “Uma Coisa Bonitinha” ele segue o rito trazendo uma aproximação à questões familiares, da sua intimidade. Além disso, uma leve referência ao álbum “Um Banda Um (1982)” tanto no som quanto “incrivelmente” na voz, já que ela está ótima e bem longe da rouquidão aparente no disco “Dois Amigos Um Século de Vida (2015)” em parceria com seu compadre Caetano Veloso.
Já em “Quatro Pedacinhos” (faixa que inclusive está sendo trabalhada pelo artista na midia), ele faz uma bela homenagem a sua cardiologista Roberta Saretta, integrante da equipe de Roberto Kalil, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A letra é bem singela e muito bem bolada. “Ela mandou arrancar, Quatro, pedacinhos do meu coração. Depois mandou examinar os quatro pedacinhos. Um para saber se eu sinto medo. Um para saber se eu sinto dor. Um para saber os meus segredos. Um para saber se eu sinto amor. Ela é médica e tem todo direito. De arrancar o que quiser de mim”. A música traz no som uma mera semelhança a faixas do álbum “Parabolicamara (1992)” e “Quanta (1997)” como também a canção “Lia e Deia”.
Na música “Jacintho”, Gil magistralmente faz um trocadilho das dores que a idade traz para o corpo. Além do Belo violão a letra traz roda a realidade de quem entende que as dores fazem parte da vida. “Jacintho. Já sinto aqui na barriga. Mais preguiçosa bexiga. Mais ociosos os rins. Jacintho. Já sinto aqui no meu peito. Alguns sinais de defeito. Coração, pulmões e afins. Velhice, cálculos, calos, calvície. Hora de chamar o vice
Para assumir o poder. Jacintho. Já sinto certa inveja de você. 100 anos não é para qualquer um viver”.
Em “Yamandu”, Gil dedilha o seu belo violão fazendo um tributo ao violonista gaúcho Yamandu Costa, que é extremamente conhecido. Na letra ele fala da rapidez e da agilidade do artista com o seu violão. Em “Tartaruguê”, o artista traz os sons conhecidos de discos marcantes da sua carreira como “Realce (1979)”, “A Gente Precisa Ver o Luar (1981)” e “Raça Humana (1984)”. Assim segue em “Sol de Maria”, “Prece” e em “Afogamento” que são músicas mais envoltas ao violão “mágico” de Gilberto Gil. Em “Kalil”, mais uma vez Gil faz uma homenagem a um profissional da área da saúde, o cardiologista, Dr. Roberto Kalil mostrando toda a sua gratidão. Para fechar, a música “Pela Internet 2” traz todo o swing, forró e reggae de Gil.
Avaliação
Entre as faixas que mais gostei do álbum, indico “OK OK OK”, “Sereno”, “Uma Coisa Bonitinha”, “Quatro Pedacinhos” (uma das melhores em minha opinião), “Lia e Deia” e “Jacintho”. Percebo nesse novo trabalho que ele está enfrentando “a certa idade” como muita maturidade e acima de tudo muita perspicácia. Basta reparar nas letras e nos trocadilhos que inteligentemente ele traz em “OK OK OK (2018)”. Avalio com cinco estrelas (avaliação máxima) porque Gil mostra que se tem algo que precisamos valorizar no mundo é a vida, a alegria e as amizades. Álbum disponível no formato físico em CD e vinil e nos canais digitais do Deezer e Spotify. Vale a pena escutar “analiticamente” mais essa bela obra do “Mestre” Gil.
Até a próxima coluna Crítica Musical.
Crítica Musical é publicada neste espaço toda quinta-feira.