Parcerias, som pop e mudanças sociais marcam 21º álbum
Com uma carreira embrenhada de sucessos, Marina Lima vem deixando um rastro bem interessante na música. Nos anos de 1980 foi uma das cantoras mais expressivas do cenário, tanto pelas letras, quanto pela autenticidade, que diga a canção “Pra Começar (1987)”, que já alertava algumas possíveis mudanças sociais no país. Nos anos de 1990 (com 35 anos de idade, em pura plenitude musical), trazia nas letras de “Criança” e “Grávida”, o olhar maduro de uma artista que sabia o que queria. Nos anos 2000, com o “Acústico MTV (2003)” deu pistas claras do que seria sua carreira dali para frente e nem mesmo os problemas vocais atrapalharam sua produção musical. Destaque para os discos “Setembro (2004)” e o álbum “Clímax (2011)”, que mesmo sem o parceiro musical Antonio Cícero foi muito bem aplaudido pela crítica.
Mas dali para frente existia um “hiato” de sete anos sem um novo trabalho (de inéditas), apenas registros ao vivo de antigos sucessos como o álbum “No Osso (2015)” e mais nada. Mas eis que Marina Lima surpreendeu os fãs com seu mais novo trabalho: “Novas Famílias (2018)”, 21º álbum que de referências traz a regravação de “Pra Começar (1987)” e canções bem antenadas com o realidade política e social do país. A partir da canção “Novas Famílias”, já dá para perceber que Marina Lima traz um olhar amplo da realidade: “Um carioca acrobata. Não deixa a peteca cair. Júpiter, Kepler, outras galáxias. Dou pra você decidir. Céus, e essas novas famílias. Com terras molhadas de amor. Minando qualquer ditador”. Daí para frente hits bem dançantes (algo já conhecido em sua carreira) como a canção “Juntas” que traz batidas bem próximas dos álbuns “Marina Lima (1991)” e “O Chamado (1993)”. Em Árvores Alheias, Marina Lima também não decepciona. Batidas alegres e o estilo inconfundível estoam.
Mas nem só de hits animados “Novas Famílias” se destaca. Em “Mãe Gentil”, Marina Lima traz toda sua observação sobre a política atual do país. Pela letra da música já dá para sentir: “Quebra pau. Tudo errado nesse paisinho. Pá de cal. Numa gente escrota e mesquinha. Que nos faz de bobo. Pra que enganar o povo?”. Talvez a canção caberia mais dentro de uma bossa, com violão e batidas mais leves, mas mesmo assim ficou ótima, pois a letra é bem inteligente. Na música “Só os Coxinhas”, Marina Lima revive momentos da política, principalmente em 2013, quando partidarios se atacavam chamando os outros de”Coxinhas”. Aliás, ainda existe esse termo. Em “Climática” ela traz o bom samba e em “Sexy é Gostoso”, ela revive o som “marcante da sua carreira”, próximo dos álbuns “Marina Lima (1991)”; “Abrigo (1995)” e “Pierrot do Brasil (1998)”. Já em em seguida temos “Do Mercosul”, mais lenta e a regravação de “Pra Começar”, que para mim traz uma letra bem atual: “Pra começar, quem vai colar, os tais caquinhos. Do velho mundo. Pátrias, Famílias, Religiões e preconceitos quebrou não tem mais jeito”.
Avaliação
Entre as faixas que mais gostei do álbum “Novas Famílias (2018), indico: “Novas Famílias” (letra incrível); “Mãe Gentil”; “É Sexy é Gostoso” e a bela “Do Mercosul”, que em sua letra diz: “Encontrei o tal lugar. Faz a vista transformar. Um horizonte. Numa segunda pele. Nossa história pra voar. Umas tendas e o luar. Mirando o Mercosul”. Quanto ao álbum, avalio com quatro estrelas (avaliação média), porque em alguns pontos, acredito que a cantora deixou seu posicionamento em relação a situações políticas falarem alto demais. Talvez, algo desnecessário para o disco. Quanto a temática do álbum, Marina Lima arrebentou, pois vivemos novos tempos e ela mostra que está sabendo acompanhar muito bem o “tempo”, que como já dizia o poeta Cazuza, “Não Pára”. Álbum disponível no formato fisico, no Deezer e também no Spotify.
Até a próxima Crítica Musical.
Crítica Musical é publicada neste espaço toda quinta-feira.