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Luiz, Câmera, Ação: Baseado em Fatos Reais

Filme: Baseado em Fatos Reais

Gênero: Drama, suspense
Diretor: Roman Polanski
Trailer:

 

 

Um suspense de essência e aparência

 
Um suspense psicológico tem seu lugar, né? Não é à toa que, nos últimos meses, assisti a filmes como “Fragmentado” (2016) e “Corra!” (2017) e amei… Além, é claro, dos clássicos arrematadores nessa linha que  não saem nunca de nossa cabeça, como “Silêncio dos Inocentes” (1991), “O Sexto Sentido” (1999) e “Os Outros” (2001). Nesta semana, assisti a “Baseado em Fatos Reais”, que está em cartaz nos cinemas, e tive essa mesma experiência dos filmes anteriores: fiquei grudado na poltrona, supertenso, vivenciando cada cena de suspense com ardor e, agradavelmente, me surpreendendo no final.
 
Baseado no romance de Delphine de Vigan, esse é o mais novo filme do diretor Roman Polanski e foi a aposta do Festival de Cannes 2017 para ser o longa de encerramento da seleção oficial, extracompetição. Na história, durante o lançamento de seu mais novo livro, a autora de sucessos Delphine (Emmanuelle Seigner, casada com Polanski na vida real) conhece Elle (Eva Green), uma de suas fãs, uma jovem encantadora, inteligente e intuitiva. Elle também é escritora e trabalha como a autora de textos de biografias de celebridades. Aos poucos, as duas se aproximam e, de um modo voraz, Elle se torna cada vez mais presente na vida de Delphine – que está frágil, esgotada em função de inúmeras cobranças e frustrada por suas memórias. Por mais que, às vezes, se sinta incomodada com a onipresença da nova amiga, a autora permite a aproximação devido a sua fragilidade emocional, o que logo se revela um erro. Um enorme erro, porque, a pouco e pouco, cena a cena, você vai percebendo que Elle vai, literalmente, controlando a vida de Delphine, com uma crescente violência física e psicológica. Mas essa mulher misteriosa veio preencher um vazio ou criar um novo? Dar um novo impulso ou roubar sua vida?
 
Em entrevista, Eva Green – a atriz que incorpora muito bem a femme fatale Elle – assume o poder de sua personagem: “Elle é como uma vampira. Ela se muda para a casa de Delphine, que está passando por um momento difícil, então decide que vai ajudá-la, responder suas mensagens, usar suas roupas… Acaba possuindo-a”. E, como eu disse anteriormente, você vai assistindo a todo esse processo gradativo de dominação sem poder fazer nada. Nadinha… Não pode nem dar uma sacudida na protagonista, uns tapas na cara para ela acordar e perceber o erro que está cometendo e como está sendo ingênua. E, talvez, é isso que te prende – mas  isso também te faz achar que o filme está lento e indo longe demais.
 
A fotografia é ótima. A produção é francesa e se passa toda em Paris, onde a escritora vive. São muitas as tomadas externas mostrando o dia a dia da Cidade Luz, e isso é o máximo! Você se sente parte daquela rotina, você queria estar lá e acaba até se vendo por lá. Já a trilha é um pouco abusiva; o suspense em forma de som é exagerado e é outro fator que pode cansar.
 
Já o roteiro de Olivier Assayas subestima o espectador, deixando pistas que acabam revelando fatos que deveriam ser mantidos em total segredo até certo ponto. Dessa forma, o longa está um pouco distante do topo de qualidade da filmografia do cineasta, mas, ainda assim, se prova um exercício sofisticado de narrativa e estilo.
 
E por que “Baseado em Fatos Reais”? Como uma de suas indagações, Elle tenta convencer Delphine a escrever seu próximo livro inspirada por algo de sua vida. Assim, segundo ela, seria mais admissível, mais crível. “O escritor sempre filtra suas experiências para criar”, diz Elle, arrematadora. Mas Delphine, mesmo com toda sua baixa autoestima, é capaz de refletir e pontuar, em outro momento do filme: “Você não se vê como as pessoas te veem”. Realmente, nessa relação de essência e aparência, o espelho merecia muito mais clamar por obediência.
 
 
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira

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Charles Douglas
Virginiano, metropolitano de Ibirité, mas com a vida construída em BH, jornalista recém formado e apaixonado pelos rolês culturais da capital mineira. Está perdido no mundo da internet desde quando as comunidades do Orkut eram o Culturaliza de hoje. Quando não está com a catuaba nas mãos, pelas ruas de Belo Horizonte, está assistindo SBT ou desenhos no Netflix.