Sabe aquela máxima popular “Antes trabalhava para viver, agora vivo para trabalhar”? Pois é este o tom didático e pessimista do diretor Ken Loach no filme “Você Não Estava Aqui”, em cartaz no cinema do shopping Ponteio, em BH. Ele trata os reais problemas do capitalismo atual como a “uberização da vida”, ou melhor, como a “uberização do ser humano”. É um filme forte, chocante, que utiliza desta realidade do trabalho informal atual para mostrar o que o roteirista Paul Laverty diz: “É uma tentativa de olhar para o verdadeiro caos da vida moderna, dominada pela tecnologia, que promete nos libertar, mas acaba nos escravizando. É sobre essa falsa ilusão de liberdade”.
No filme inglês, após a crise financeira de 2008, Ricky e sua família se encontram em situação financeira precária. Ele decide adquirir uma pequena van, na intenção de trabalhar com entregas, enquanto sua esposa luta para manter a profissão de cuidadora de idosos. No entanto, o trabalho informal não traz a recompensa prometida, e aos poucos os membros da família passam a ser jogados uns contra os outros.
É por causa desse excesso de trabalho que os familiares estão tão perto, mas tão longe uns dos outros. Os pais não têm tempo de ficar com os filhos, pois mergulham de cabeça em seus serviços na esperança de melhorarem de vida, e assim surgem os problemas familiares. É assim que o diretor (o mesmo de “Eu, Daniel Blake”) demonstra que esse sistema trabalhista e capitalista está quebrado… vide a resolução negativa do longa. Ou seja, não bastam as jornadas longas, sem descanso, influenciando física e psicologicamente no indivíduo e em sua família. A bolha negativa só aumenta!
“Você Não Estava Aqui” é assim… Emocionante, naturalista, uma catarse real… É o filme terminar e você perceber que os valores trabalhistas atuais realmente não existem e a esperança diante desse caos é nula e extremamente trágica.