Sou fã declarado do diretor Quentin Tarantino. Gosto de como ele faz uma autêntica mistura de terror, ação, policial e comédia, tudo num mesmo pacote, e como esse mix ganhou os fãs em todo o mundo ao longo dos anos. Me lembro uma vez, quando o longa “À Prova de Morte” (2007) estava em cartaz, que fui ao cinema e, naquele festival de mortes escrachadas e surreais, bem ao estilo do diretor, os espectadores vibravam e gargalhavam tanto que mais parecia a melhor das comédias. Tiros, explosões, exposição gratuita da violência, além das referências constantes à cultura pop, viraram sua marca registrada. E por mais que em seus últimos filmes ele tenha reforçado uma outra característica – “Bastardos Inglórios” (2009), “Django Livre” (2012) e “Os Oito Odiados” (2015) são mais intensos e têm diálogos fortíssimos –, os fãs sabem o que vão encontrar nas produções do mestre.
É justamente isso que acontece em “Era uma Vez em… Hollywood”, nono filme de Tarantino, que acaba de chegar às telonas, lotado de nostalgia, clichês e, como era de se esperar, incríveis enquadramentos e movimentos de câmera. Na produção, Leonardo DiCaprio e Brad Pitt atuam juntos pela primeira vez em um filme de grande orçamento, que faz uma crítica ao mundo de Hollywood e também aos seus enormes egos, isso numa época cheia de mudanças, no final da década de 60.
Na verdade, pode se considerar que o longa faz uma homenagem ao cinema com três protagonistas que têm suas vidas desconstruídas. É o patético e essa desconstrução que dão tom: o ator emotivo e em crise Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), tentando ser amado e reconhecido, o dublê-capacho Cliff Booth (Brad Pitt), que vive à sombra do ator, e a jovem atriz Sharon Tate (Margot Robbie), que é uma esposa-troféu um tanto superficial… Dá pra ver que Tarantino se diverte com o cotidiano destes anti-heróis e utiliza artifícios ágeis e lúdicos para prender a atenção do espectador durante as longas três horas de duração. Não tinha a necessidade de ser tão extenso, sendo que muitos dos personagens ainda eram apresentados até a segunda hora. Mas isso não o faz ser tão cansativo assim. Mesmo não apresentando muitos conflitos ou reviravoltas que mudassem os rumos da narrativa, o longa te prende, muito pelo grande elenco escalado – além do trio de protagonistas, o filme tem no elenco Al Pacino, Dakota Fanning, Emile Hirsch, Kurt Russell e Timothy Olyphant.
A violência gratuita, e muitas vezes até engraçada de Tarantino (que, como eu disse, os fãs adoram!), só vem no final – a não ser em um espancamento bizarro de um hippie um pouco antes. E é nesse terceiro ato que, enfim, o filme se movimenta e te dá aquela endorfina da conclusão! O diretor evitou esse fetiche à violência durante toda a produção, mas deixou essa necessária cereja do bolo subsequente, como um arremate, para você sair sorrindo do cinema, um verdadeiro xeque-mate.
Trailer: