Dizem que as crônicas são o respiro dos jornais. No meu caso, vou além: são respiro e suspiro; fôlego e alívio necessários a uma vida mais leve. Sabe aquele desconforto no estômago após cometer excessos num final de semana? Pois a crônica age como sal de frutas, e desopila. Assim, de bucho cheio — para não falar no órgão mais embaixo —, e com a licença do leitor, estreio nesta coluna de crônicas. Pois preciso respirar.
Aos 28 anos abri mão da minha ainda incipiente carreira de jornalista e me matriculei no curso de Direito. No primeiro ano, bem que tentei conciliar o banco duro da faculdade com a cadeira de rodinhas cambeta na redação do jornal. Resultado: quase doze horas ininterruptas de atividade cerebral intensa — e um baita torcicolo ao final do dia. Não demorou até que a universidade me consumisse por inteiro, e acabei conseguindo um estágio em escritório de advocacia – com carga horária menor e remuneração melhor do que no jornal, pasmem.
O trabalho era maçante e não proporcionava o prazer da escrita. Pulei de um escritório para outro. Até que finalmente encontrei dignidade num local que me demandasse trabalho intelectual. Passei a escrever artigos e peças jurídicos e tive a oportunidade de acompanhar de perto o trabalho de excelentes advogados. Hoje, trabalho lá.
Desde então, submeti-me a uma dieta a base de livros jurídicos. As obras de Direito vêm em volumes pesados e com conteúdo denso e, geralmente, pouco dão margem a qualquer manifestação criativa do autor. Basicamente discorrem sobre leis, normas e regras e, por vezes, sobre regras, normas e leis. O fôlego, nesses tempos de imersão jurídica, veio na forma de grandes autores, como Victor Hugo, George Orwell e Tolstói, cujas obras as devorei em madrugadas insones.
Nessas circunstâncias adversas, certo é que o bichinho de escritor sobreviveu em mim. Resistiu à ausência de oxigenação, à semelhança das bactéricas que habitam as encostas de vulcões ativos. Sob condições comparáveis às do planeta Marte, esses microrganismos seguem vivos, cumprindo o seus papéis na natureza.
E se até as bactérias têm um papel, acredito que também tenho uma vocação: a de escrever. A necessidade irrefreável de criar e a predileção manifesta pela escrita literária deverão encontrar vazão nesta coluna, que funcionará, sempre aos domingos, como um balão de oxigênio para pulmões em necrose.
Literatura, cinema e toda forma de arte darão o tom das crônicas dominicais, cujas notas serão afinadas na observação acurada do país, da capital mineira e do comportamento dos seus citadinos.
Ufa! Já consigo respirar. Um respiro dedicado amigo Charles, que gentilmente cedeu o espaço.