Eu poderia te dar uns cem motivos para assistir ao filme “Green Book: O Guia”, que está em cartaz nos cinemas, mas não temos tempo pra isso nem tenho espaço por aqui. Porém, tenho a necessidade (e a obrigação) de passar pra você pelo menos umas dez justificativas para você ver esse que, pra mim, é o que vai levar a estatueta de melhor filme no Oscar 2019 – pelo menos esse longa nota 10 é o meu preferido, né?
1) Só pra começar, “Green Book” foi indicado em cinco categorias do Oscar e é baseado em uma história real, fatos que já elevam seu cacife.
2) O roteiro se passa no início dos anos 60, mas é bem atual. Com o sul dos Estados Unidos ainda sob segregação racial, foi criado um guia de hotéis e restaurantes seguros, geralmente bem simples, que aceitavam negros, o famoso “livro verde” – pois, se eles frequentassem os outros locais, destinados a brancos, poderia haver humilhação ou até mesmo espancamento. Quando o pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali), um homem rico, refinado e muito talentoso, resolve fazer uma turnê pela região, a gravadora contrata o motorista Tony Lip Vallelonga (Viggo Mortensen), um ítalo-americano falastrão, racista e ignorante. É claro que a viagem não vai começar muito bem. Mas, confrontados o tempo todos em situações de racismo, em meio a momentos de humanidade e humor inesperado, eles são forçados a deixar de lado as diferenças e passar por profundas transformações, desenvolvendo um relacionamento próximo e uma empatia mútua.
3) Por conta disso, o longa tem sido comparado a “Conduzindo Miss Daisy” (1989), em que uma rica judia (Jessica Tandy) contrata um afro-americano (Morgan Freeman) como motorista e, assim, vão quebrando barreiras sociais, culturais e raciais, nascendo entre os dois uma verdadeira amizade. Muitos veem isso de forma negativa, já eu acho a referência maravilhosa!
4) Surpreendentemente, o longa é dirigido por Peter Farrelly, que só tinha comédias como “Debi & Loide”, “Quem Vai Ficar com Mary?” e “O Amor É Cego” no currículo. É instigante ver como um diretor desse gênero se transforma e produz um drama tão tocante.
5) Apesar do tema pesado que carrega, o filme acaba tendo momentos leves e emocionantes, que tocam numa ferida eterna não só norte-americana e que o deixa ainda mais cativante.
6) Nada em “Green Book” é exagerado. Tudo é sutil e natural. Nessa verdadeira jornada de redenção dos dois, seu olhar como telespectador pode e deve perpassar por cada detalhe de um exímio roteiro, que, por mais que seja acusado de imprecisões históricas, mostra uma realidade triste e comovente.
7) Se o roteiro é gigante, a atuação dos atores é maior ainda. Viggo Mortensen e Mahershala Ali, que concorrem às estatuetas de melhor ator e melhor ator coadjuvante, respectivamente, vestem a camisa dos personagens e fazem atuações impressionantes. As cenas de violência de Viggo ou as no piano de Mahershala são espantosas e admiráveis.
8) A desconstrução dos personagens também é louvável. O ignorante brutamontes vai aos poucos encantando e desabrochando; e o arrogante pianista, que não se encaixa nas expectativas da sociedade para um homem com o seu talento e a sua cor, vai mostrando que aquele pedestal todo é só uma fuga. É realmente linda e forte essa desconstrução.
9) A segregação racial mexe com a gente, né? É um assunto sensível, violento, arrasador. Em vários momentos, me colocava no lugar de Don Shirley e ficava arrasado, devastado. Não existe a possibilidade de ficar indiferente. A mensagem é dura demais!
10) Dentro dessa lógica, finalizo a nossa lista reafirmando o porquê de você torcer comigo para “Green Book” neste Oscar: “Porque ser gênio não é o bastante. É preciso ter coragem para tocar o coração das pessoas”. Lindo, né? Se uma mensagem dessa pode te tocar assim, aleatoriamente, imagina um filme inteiro sob esses ensinamentos.
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira