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Há 36 anos Maria Bethânia lançava “Ciclo” o primeiro disco acústico da música brasileira

Álbum surgiu na “contramão” do som eletrônico dos anos de 1980

 

 

No início dos anos de 1980 muitos artistas internacionais e até mesmo nacionais precisaram praticamente se reciclar para se manter no topo das paradas musicais, principalmente no quesito “sonoridade”, já que as batidas eletrônicas eram o “modismo” da época. Nomes de destaque da música, como, David Bowie, Queen, Peter Gabriel, Genesis, América e até mesmo alguns “brazucas” tiveram que mudar os conceitos. Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan e outros nomes também se adequadaram a nova sonoridade que se propagava com Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Blitz, Kid Abelha, Lulu Santos e outros. Todavia, Maria Bethânia, uma das destacáveis artistas da MPB nadando contra a corrente e na contramão dos modismos lançou “Ciclo” em 1983. O álbum que traz grandes clássicos da música, foi o “primeiro registro de um acústico no país” e mesmo não estando nos moldes da época, vendeu 400 mil cópias e ganhou um disco de platina. Além disso, se tornou uma das obras preferidas da própria cantora.

 

Começando pela música “Motriz”, Maria Bethânia traz para o ouvinte toda a sua serenidade. A letra é de “Caetano Veloso” e no som, exatamente a proposta da artista, nada de bateria ou algum som eletrônico. “Embaixo a Terra e em cima o macho, o céu. E, entre os dois, a ideia de um sinal. Traçado em luz e em tudo a voz de minha mãe. E a minha voz na dela. A tarde dói de tão igual. A tarde que atravessa o corredor. Que paz! Que luz que faz! Que voz! Que dor! Que doce amargo cada vez que o vento traz. A nossa voz que chama verde do canavial, canavial. E nós, mãe. Candeias, motriz”. Dando sequência ao álbum, Maria Bethânia traz a participação de Gal Gosta na canção “Filosofia Pura”. Essa foi a segunda vez que as cantoras dividiram um duo. O primeiro foi no disco “Álibi (1978)” de Maria Bethânia. “Quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou. E o desejo da menina quando o seu corpo fulmina. Acende o fogo do amor. E a sensação divina de dominar quem domina. É que cura qualquer dor. Pois trocar vida com vida é somar na dividida. Multiplicando o amor. Pra que o sonho dessa gente não seja mais fluente. Do medo em que desaguou”.

 

Com belo violão, Maria Bethânia apresenta em seguida para o ouvinte a canção “Fogueira”. A música de Angela Ro Ro, ainda ainda não havia sido gravada pela artista e entrou como hit inédito em “Ciclo (1983)”. “Porque queimar minha fogueira. E destruir a companheira. Porque sangrar o meu amor assim? Não penses ter a vida inteira. Para esconder teu coração. Mais breve que o tempo passa. Vem num galope meu perdão. Deixa eu cantar. Aquela velha história, amor. Deixa eu penar. A liberdade está na dor”. Em sequência a música “A Notícia” traz mais uma vez o romântismo de Maria Bethânia. A letra de “Gilberto Gil” é estoteante. “Foi a polícia que trouxe a notícia. Que o meu amor tinha morrido. Teria sido encontrado, coração varado. Por flechas de algum cupido. Novo bandido talvez contratado. Por alguém bem interessado. Na minha solidão, minha desilusão. Na vaga aberta na minha paixão”.

 

Com “Sonhei Que Estava em Portugal”, Maria Bethânia leva o ouvinte a uma viagem as terras vizinhas. Já em “Ciclo” canção que intitula o álbum, Maria Bethânia mais uma vez transpõe todo a sua interpretação na música de “Caetano Veloso e Nestor De Oliveira”. “Passa o tempo e a vida passa. E eu, de alma ingênua, acredito. No sonho doce infinito. Plenitude, enlevo e graça. Que sem tortura ou revolta. Estou cantando ao luar. Vamos dar a meia-volta. Volta e meia vamos dar. Depois a estrada poeirenta. Os pés sangrando em pedrouços. E apaziguando alvoroços. A alma intranquila e sedenta. Murchessem todas as flores. A correnteza das horas. As trevas sobre as auroras. Os derradeiros amores”. Em “Rio de Janeiro (Isto É o Meu Brasil), Maria Bethânia convida seu público para um “samba” de extrema qualidade envolto a letra e melodia de muita qualidade. “Para cantar a beleza. A grandeza. De nossa terra. Basta ser bom brasileiro. Mostrar ao mundo inteiro. Tudo que ela encerra, Brasil. Ô nossas praias são tão claras. Nossas flores são tão raras. Isso é o meu Brasil ! Ô,nossos rios,nossas ilhas e matas. Nossos montes,nossas lindas cascatas, Deus foi quem criou”. Em sequência ela traz as belas músicas: “Pra Fazer o Sol Adormecer”, “Ela Disse Me Assim” e “Vinho”. Para fechar o disco “Ciclo (1983)” com maestria, Maria Bethânia encerra com a canção “Lua”, de Roberto Mendes.

 

Avaliação

 

Entre as canções que gostei de “Ciclo (1983)”, indico: “Motriz”, “Filosofia Pura (com Gal Costa)”, “Fogueira”, “Ciclo (que intitula o disco)”, “Rio de Janeiro (Isto É o Meu Brasil)”, “Pra Fazer o Sol Adormecer” e “Vinho”, que é uma linda canção. Avalio com cinco estrelas (máxima), pois, falar de Maria Bethânia sem se comover, é fingir não entender sua mensagem a cada novo disco lançado. “Ciclo (1983)”, além de trazer o “inusitado” para o ouvinte na época, mostra que ao invés de ir junto com a maré dos modismos, Maria Bethânia “prevendo o futuro”, gravou um disco primoroso e que daria abertura anos depois para os grandes “acústicos” gravados nos anos de 1990 e 2000. Um disco que reforça o vocal único da cantora que até hoje, é uma das maiores interpretes da música brasileira. Vale a pena escutar “Ciclo (1983)”, uma obra prima que traz praticamente “poesias” na voz da grande artista. Disponível no formato fisico, Deezer e Spotify.

 

 

 

 

Até a próxima Crítica Musical.

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