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As Telefonistas: A luta pela igualdade ainda é a nossa realidade

Série: As Telefonistas

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=vtJ72tZ9H6A

 

 

Quando você escuta ou lê, nos dias de hoje, que um homem disse que uma mulher não merece ser estuprada porque ela é feia, ou que a mulher deveria receber um salário menor que o homem porque engravida, ou que elas são “mais fracas” que eles, você começa a desacreditar do mundo em que vive. Ou, na verdade, do país em que vive, né?! Porque, na década de 20, na Espanha, algumas mulheres já tentavam mudar esse cenário de preconceito e diminuição numa realidade dominada por homens, tinham dificuldades com isso por causa da época, mas, mesmo assim, conseguiam algum avanço. Hoje, em nosso país, com a nossa realidade, parece que estamos regredindo.

 

Mas não estamos aqui pra falar de regressão, e sim de Luiz, Câmera, Ação. Fiquei encantado com a série “As Telefonistas” – disponível na Netflix em três temporadas –, que conta a história cheia de tretas de quatro mulheres (com destaque para uma protagonista) vindas de diferentes partes da Espanha e que chegam para trabalhar como “garotas do cabo” (operadoras de telefonia) em uma empresa em Madri que vai revolucionar o mundo das telecomunicações. No único lugar que representa o progresso e a modernidade para as mulheres da época, elas lidam com inveja, preconceito, ciúmes, ambição e traição enquanto embarcam em uma jornada em busca do sucesso – pessoal, como mulheres, e profissional, claro. Alba (Bianca Suárez), Carlota (Ana Fernández), Ángeles (Maggie Civantos) e Marga (Nadia de Santiago) lutam por liberdade e por seus sonhos, cada um com um significado próprio, em uma época em que a mulher precisava se sacrificar para trabalhar e alcançar a independência. E cada uma delas representa e carrega uma opressão sofrida pelo sexo feminino.

 

O cenário, o figurino, a trilha e até os atores são lindos. Os anos 20 sempre foram belíssimos para a fotografia, não é mesmo? Mas esses são só alguns detalhes que deixam a produção mais atraente e sedutora. O que chama mais atenção mesmo é a riqueza de assuntos tão atuais numa série passada em tal época. Tudo bem que já existiam as mulheres progressistas que já trabalhavam duro, mesmo que perifericamente, para assegurar seus direitos num mundo dominado pelos homens. Porém, é por meio das boas histórias das personagens que identificamos as enormes e insuportáveis dificuldades de cada uma de se viver naquele mundo. Nas entrelinhas, as leis só ajudavam e davam razão aos homens. Casos de violência, dominação, assédio… desafios de ser mulher no cotidiano tão antigos que ecoam até hoje em qualquer lugar, em plena vida real.

 

Por mais que a série seja um novelão, desses com vários núcleos e subtramas interligadas que buscam o melodrama e a emoção o tempo todo, há uma constante reflexão das importantes premissas de luta femininas. E isso é excelente, pois um pai opressor, um marido violento, um chefe assediador, até uma senhora tradicionalíssima que diminui emocionalmente uma jovem e destrói seus sonhos, tudo isso é pauta até hoje. O machismo, a falta de liberdade, os relacionamentos abusivos e a submissão são temas que devem ser falados e discutidos, até mesmo nos meios de entretenimento, para que esse cenário possa um dia mudar. Infelizmente, a ficção só traz uma reflexão. Mais do que nunca, a nossa realidade precisa ser encarada com preocupação porque não dá para aceitar a tal regressão. Mulheres, não abaixem as cabeças, o arregacem as mangas, resistam como podem e sigam em frente na louvável luta contra a intolerância e a opressão.

 

“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira

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Luiz Cabral
Palpiteiro de plantão, Cabral é, atualmente, responsável pelas colunas SuperDicas (@superdicasbh), com sugestões de gastronomia e diversão na capital; Nossas Histórias, com textos de cotidiano e comportamento; e Luiz, Câmera, Ação – www.luizcameraacao.com, com indicações de filmes e reflexões sobre o que a magia do cinema faz nas nossas vidas. A sétima arte, inclusive, é a sua maior paixão. Aqui neste espaço ele vai narrar, com sensibilidade e crítica, como um filme pode ser muito mais que duas horas de diversão na poltrona do cinema.