Qual a lembrança que você tem da apresentadora da Hebe Camargo?
Eu me lembro do sorriso marcante, aquela alegria contagiante, uma energia leve, boa, tranquila que literalmente invadia a nossa casa semanalmente. Assistir ao programa da Hebe dava prazer, mesmo que os convidados não fossem empolgantes, o seu programa era bom porque ela o fazia com prazer, com carinho, e simplesmente por ser ela mesma. Esse jeitinho “Hebe” de ser pode soar para alguns como falso ou forçado, mas já de cara dou um spoiller para aqueles que acham que na vida real ela era diferente, não era, mas a vida não foi fácil para a nossa rainha soberana da televisão. Alguém discorda desse título? Também não, neste Brasil de meu Deus cada vez mais dividido, Hebe ainda é uma unanimidade. Ler a sua biografia é imortaliza-la e por isso a leitura é tão importante principalmente para as novas gerações.
“Hebe – a biografia” escrita pelo jornalista Artur Xexéo, foi publicada em 2017 pela editora Best Seller. Xexéo, como muito de nós, é um grande fã da Hebe e já abre a história contando como a artista fez parte da sua infância, de como a sua avó (outra grande fã de Hebe) acompanhava a vida da jovem cantora de rádio e TV. “Eu lembro de um Natal em que os netos fizeram uma vaquinha para comprar um presente para dona Candoca. O que ela mais gostava de ganhar? Um disco de Hebe, é claro. (pág.8). E para quem só conhece a Hebe apresentadora, dando selinho nos convidados que sentavam no seu sofá branco, saiba que ela foi uma das grandes representantes da música brasileira durante várias décadas. Essa foi para mim a maior surpresa, porque descobrimos aqui a trajetória de uma cantora que fez muito sucesso no rádio e posteriormente na TV.
Xexéo nos apresenta uma mulher de origem pobre, que precisou largar os estudos ainda no primário para trabalhar e ajudar no sustento da sua família. Por isso, embora não transparece ao público, essa “ausência” de estudo incomodava muito a artista que se considerava inculta diante dos entrevistados e entrevistadores. Esse é apenas um dos diversos segredos revelados na biografia de uma mulher que já na década de 60 tinha orgulho de representar as mulheres, de tratar de feminismo em um universo machista, o primeiro programa feminista da televisão brasileira – O mundo é das mulheres – foi apresentado por Hebe. Xéxeo acompanha com uma riqueza de detalhes (isso pode incomodar alguns leitores) todos os caminhos percorridos por Hebe, sua história com o rádio, seus lançamentos musicais, os casamentos, o nascimento do filho único, as escolhas mais decisivas, as atitudes de mulher empoderada que pagava pelas roupas que usava no seu programa, enfim, a vida que ela amou plenamente até os últimos segundos.
Muitas pessoas têm pré-conceito com as biografias, geralmente são livros com leitura lenta, difícil de avançar, mas eu adoro. Gosto muito do contexto histórico que envolve a vida do biografado, e principalmente conhecer histórias de pessoas que lutaram com garra e honestidade para alcançar o sucesso neste país. É inegável a paixão dos brasileiros por esta artista. Nunca vamos nos esquecer da sua espontaneidade, do seu carisma, das suas risadas, do selinho e claro do seu mais famoso bordão: “Que gracinha!”
Quero destacar as respostas dadas por ela em um Ping-Pong feito para a Revista do Rádio em 1960 que reflete um pouco da sua personalidade.
Opinião sobre os inimigos: Não os tem, mas, se tivesse, não se incomodaria com eles.
Qualidades: Prefere não citá-las, pois acha que louvor de boca própria não tem a menor valia.
Por fim que capa maravilhosa! Um capricho da editora que faz jus a sofisticação da biografada.
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