Imagine a cena: uma pequena tripulação de cientistas de uma estação espacial em órbita em torno da Terra consegue reanimar uma minúscula criatura, um reles protozoário fóssil encontrado em Marte, e aquilo se torna a primeira confirmação de vida fora de nosso planeta. Esse ser microscópico rapidamente se desenvolve, atingindo o tamanho de uma plantinha fofa, encantando os cientistas e reagindo a todos os seus estímulos. Só que a “plantinha”, apelidada de Calvin, cresce estrondosamente rápido e logo vai se transformando em algo inteligente, forte, ultrarresistente e capaz de se locomover velozmente e de lutar por sua sobrevivência, mesmo que para isso tenha que matar todos a seu redor. É como se um perigoso alienígena tivesse sido acordado e estivesse à solta dentro de uma nave, pronto para executar um a um.
É nesse molde assustador de “Alien” que o diretor Daniel Espinosa nos guia em “Vida”, filme em cartaz nos cinemas com Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson e Ryan Reynolds no elenco. Eu não sei você, mas eu não tenho muita paciência com esse tipo de ficção científica, não. Monstros nojentos, gosmentos, com aquela forma específica de alienígena, nunca me desceram nem nunca descerão (Tudo bem, “ET – O Extraterrestre” e “MIB – Homens de Preto” não contam, vai!). Mas e se, de alguma forma, esses seres fantásticos e irreais fossem algo real. Como se você se colocasse instantaneamente na pele dos personagens e percebesse a enrascada em que entrou. Sua vida seria o ponto avassalador em questão.
Dentro dessa perspectiva imaginária, o que transforma “Vida” em um ótimo longa é a agilidade com que tudo acontece. O diretor não tem a necessidade de antes mergulhar no entendimento de cada tripulante para que, assim, tudo aconteça no filme. Pelo contrário, os seis astronautas de grandes potências mundiais (como Rússia, EUA, Japão, Inglaterra e Austrália) iniciam diálogos rápidos e científicos. Logo, já vemos a criaturinha crescer e o desesperador jogo pela vida aparecer. Ou seja, não dá tempo de se arrepender de estar na sala de cinema ao ver Calvin crescer e surpreender. Não mesmo! Imediatamente, a agonia te preenche – fruto de um ritmo acelerado com pouquíssimos dramas pessoais em cena, que dão apenas um lado humano pro longa, e muita correria em gravidade zero, com o elenco se pressionando para se manter vivo e tentando impedir que aquela coisa desça na Terra, o que geraria consequências inimagináveis. Ou seja de novo: também não dá tempo de se apegar a nenhum personagem, já que a morte aqui nem é spoiler, é um beco sem saída mesmo… Ação e suspense na medida certa, desses de dar nos nervos.
Mas, voltando às perguntas sem respostas: até onde pode levar a curiosidade do ser humano? Porque a boa ideia da produção é justamente esta: livrar-se de um ser vivo marciano catastrófico criado e desenvolvido por meio da curiosidade proveniente não só de uma equipe de cientistas, mas de todos os seres terrestres. As capacidades de Calvin vão se multiplicando, surpreendendo não apenas os pobres coitados prestes a morrer, como todos os espectadores. O fascínio e a soberba pela descoberta nunca antes atingida é o preço alto que se deve pagar.
Pode-se dizer que esse é um filme previsível? Sim. Mas é essa previsibilidade que causa agonia e tensão, uma vez que os mocinhos terrestres não têm saída para o resistente nível do marciano vilão. A aflição é por querermos saber qual será a próxima inquietude. O ser humano é um bicho tão curioso que se enrola em sua ganância e acaba se tornando decadente e esmorecido. Não sobreviveríamos a um ataque alienígena. Tal qual o longa, seria previsível nosso definhamento.
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira!
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