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“Coringa”: A história psicótica de um vilão extraordinário e perturbador

Sombrio, perturbador, impactante, assustador… esses são só alguns dos adjetivos que podem ser dados à mais nova produção da DC Comics, tão aguardada e já premiada: após ser ovacionada no Festival de Veneza deste ano, o novo “Coringa” chega aos cinemas contando a história de como um dos maiores vilões dos quadrinhos acabou se tornando uma figura tão cruel, fria e aterrorizante.

 

 

Para dar vida ao famoso palhaço assassino, Joaquin Phoenix mergulha no personagem com tanta força que vai ser difícil tirar o Oscar 2020 dele. Aliás, o longa do diretor Todd Phillips (que tem o aval da produção de Martin Scorcese) é todo de Phoenix. É ele quem carrega a produção em suas costas magras, milimetricamente desconstruídas para a gravação do longa, com uma atuação formidável e assustadora. É realmente impressionante a transformação do ator de acordo com que o personagem vai enlouquecendo aos poucos, no processo que o transforma no psicótico e violento vilão – com direito àquelas inesquecíveis risadas, fruto de sua doença mental, que provocam calafrios. É pesado como a mudança física e a evolução (ou revolução) psicológica causam, ao mesmo tempo, espanto e admiração.

 

E a trama foca mesmo nesta transformação: na Gotham City inspirada na suja, caótica e decadente Nova York dos anos 80, Arthur Fleck (Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido e cansado de ser saco de pancada, ele reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e acaba os matando. Os assassinatos iniciam um movimento popular, com manifestantes com máscaras de palhaço, contra a elite de Gotham da qual Thomas Wayne (Brett Cullen), pai de Bruce, é seu maior representante e aspirante à cadeira de prefeito.

 

 

É nítido que o vilão, com seus pensamentos negativos e monstros internos, é fortemente influenciado pelo mundo exterior, o que o torna tão cruel. O interessante é que, em determinada parte do filme, você já não sabe mais o que é real ou a própria imaginação do personagem, que se envolve em sua loucura e se revolta com tudo e contra todos. E isso é o mal do século XXI, não é mesmo? O que torna “Coringa” tão brutal e emblemático, um verdadeiro filme de terror contemporâneo, é o fato de que a trama não é tão distante da nossa realidade. O subtexto político no roteiro do longa pode ser trazido para os dias atuais tão facilmente, assim como o perigo dos atos e das consequências em nossas vidas. Polêmico e perturbador, Coringa pode ser visto até como um líder de esquerda que dá vez aos pobres em detrimento a uma cidade controlada pelos ricos. E é aí que mora o perigo! Tanto que o filme não é para crianças e adolescentes, definitivamente. Adulto e muito violento, o roteiro tem desdobramentos furiosos e surpreendentes que, com a histórica atuação de Phoenix, nos levam a crer que este é um dos mais extraordinários, reflexivos e assustadores filmes do ano.

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Luiz Cabral
Palpiteiro de plantão, Cabral é, atualmente, responsável pelas colunas SuperDicas (@superdicasbh), com sugestões de gastronomia e diversão na capital; Nossas Histórias, com textos de cotidiano e comportamento; e Luiz, Câmera, Ação – www.luizcameraacao.com, com indicações de filmes e reflexões sobre o que a magia do cinema faz nas nossas vidas. A sétima arte, inclusive, é a sua maior paixão. Aqui neste espaço ele vai narrar, com sensibilidade e crítica, como um filme pode ser muito mais que duas horas de diversão na poltrona do cinema.