Já pensou em sair de casa pra ver um drama japonês? Pois eu fiz isso, fui assistir ao filme “Assunto de Família” no cinema e te digo que valeu a pena, viu!? O longa – que ganhou a Palma de Ouro de Cannes no ano passado, foi um dos indicados do Globo de Ouro neste ano e está na corrida pelas indicações do Oscar 2019 – é simples, realista, tem uma fotografia bem agradável, utilizando a luz natural, e, por mais que os personagens sejam completamente errados, você se apaixona por eles.
Vou explicar: na história, uma família de seis orientais vive em um ambiente parecido com um cortiço. A princípio, o diretor Hirokazu Kore-eda consegue transmitir que eles poderiam ser uma família tradicional pobre japonesa. A avó, o pai, a mãe, a irmã, os filhos… Porém, com o tempo, você vai descobrindo que essa família não é tão inocente assim. Para sobreviver, além do pouco dinheiro que recebem em seus bicos e comedidos trabalhos, alguns deles fazem pequenos furtos em lojas e mercados – e se orgulham da própria esperteza. Seria um mar de vícios e delitos escondido na casa da avó, que aceita ali, numa boa, todos os outros integrantes, que não são parentes de sangue, mas que vivem em completa harmonia e felicidade. No dia a dia, eles se amam, se cuidam, se preocupam uns com os outros, fazem as refeições juntos, dormem amontoados, mas o espectador descobre aos poucos todos os graves segredos morais que cada um deles carrega. Eles chegam até a “sequestrar” uma criança que estava sendo violentada. A família reluta, discute, condena, apazigua, mas acaba concordando em cuidar dela depois de saber das dificuldades que a pequena enfrenta; e o filme, que continua em cartaz na capital apenas no Belas Artes e no Ponteio, se desembola na construção de todos esses personagens amorais.
E é aí a chave encantadora da produção: por mais que eles sejam extremamente condenáveis, pode-se dizer que você até torce para que eles não sejam presos ou pegos – já que essa seria, inclusive, a lógica da realidade da sociedade e do universo. A resposta para esse encantamento está na ternura que cada um carrega. O que importa é o afeto que demonstram um pelo outro. E isso é hipnotizante – a ponto de esquecermos as deliquências e as transgressões de cada um. Outro fato que provoca a nossa atenção e simpatia é o amor puro e livre ao qual a família se entrega. Somente com laços afetivos entre eles, fica a reflexão do que seria mais importante: os laços de sangue ou os de convívio e coração?
Numa família que teria tudo pra ser condenada, o sentimento de unidade e de amor genuíno é tão forte que somos capazes de transformar, no nosso mais íntimo, o vilão em mocinho. Ou seja, o filme nos pede para olhar esses amorais com carinho, e o que nos resta é identificação. Se a proposta do diretor é nos fazer ter empatia por alguém diferente e fora dos padrões, alguém pode avisar pra ele que ele conseguiu. É um tapa na cara! Pois num mundo cheio de erros e desvios, às vezes o que nos resta é só compaixão.
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“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira