Muito antes dos Duelos de Mc’s no Viaduto Santa Tereza, o grupo de rap Julgamento já fazia sua história. Com início na década de 90, o grupo é o mais longevo do rap de Belo Horizonte e considerado uma das referências do estilo. Roger Deff, um dos MC’s do grupo, lembra da pouca popularidade do rap na época e destaca Racionais e Gabriel o Pensador como um dos mais influentes. “Naquela mesma década vários nomes surgiram em BH, muitos deles atuantes até hoje como é o caso do Dokttor Bhu, Flávio Renegado e Radical Tee.” completa Deff.
Hoje em dia, o Hip Hop, movimento em que o rap faz parte junto com DJ, b.boy e grafitti, atingiu uma grande proporção e já alcança uma quantidade maior de pessoas. Roger faz uma análise do atual momento e lembra que existem envolvidos com o movimento que não o compreendem tão bem; e completa com uma crítica às pessoas que dizem que hip hop não se mistura com política, ressaltando o surgimento do movimento, em Bronx, com um grupo de marginalizados.
…essa cultura nasceu no Bronx, de grupos marginalizados e que tinham como herança a postura de figuras como Angela Davis, Malcolm X e Martin Luther King. O que pode ser mais politizado que isso? E é importante entender que é um movimento cultural de scunho progressista, não é só entretenimento.
O Brasil passa por um crescimento da visão conservadora e anti-direitos humanos, sendo assim, o MC destaca o disco do grupo lançado em 2018 chamado “Boa Noite” e afirma que o papel do Julgamento, desde o início, sempre foi o de fomentar a reflexão, de debater questões que os incomodam. Ao ser perguntado pela contribuição que sua música pode trazer para a sociedade no atual momento, a resposta é certeira: “Pro atual momento mantemos o mesmo papel crítico de outros tempos, mas com o fato inédito de que, pela primeira vez na nossa trajetória, as idéias que defendemos são abertamente demonizadas, de uma forma que não presenciamos antes. Acredito que a nossa contribuição, aliás da arte como um todo, é de ser o contraponto ao que está se colocando como norma. Seguimos na contramão.”
Velho Amigo
Ainda trabalhando o “Boa Noite”, o grupo lançou recentemente o clipe de uma das faixas inclusas no disco, a “Velho Amigo”, que nasceu de uma sugestão do DJ Tobias, integrante do Julgamento, que deu a ideia de abordar o Hip Hop como um velho companheiro. A música ainda conta com participação de Monge, um MC pesquisador da história da cultura, e Michelle Oliveira, vocal da banda Cromossomo Africano. Já o clipe partiu de uma proposta de homenagem ao Hip Hop, de Israel Oliveira Xandim, da Dicotomia Filmes.
Veja:
Boa Noite
O terceiro disco do Julgamento, “Boa Noite”, tem como base narrativa os acontecimentos políticos dos últimos anos, explorando por meio de rimas e samplers a construção midiática da realidade. O mito da Caverna de Platão é explorado de forma gráfica através da capa do álbum, fazendo alusão à construção social e, no caso, midiática da realidade. O título é uma referência irônica ao “boa noite” dos telejornais e o disco nasce no contexto da crise política.
Acompanhe o grupo:
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Foto em destaque: Carol Cervantes