Luiz, Câmera, Ação: Quando a música dá o ritmo pra sua vida
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Filme: Em Ritmo de Fuga
Ano de lançamento: 2017
Gênero: Ação, policial, suspense
País: Reino Unido, EUA
Diretor: Edgar Wright
Trailer:
Já perdi as contas de quantas páginas de cinema e de distribuidoras de filme eu sigo… Aliás, se entro no meu Facebook, só tem notícias de filmes (e de cachorros e comidas, outros delirantes vícios meus). Daí, certo dia, passou um trailer pela minha timeline, e eu acabei vendo sem muito interesse. Pelas imagens, “Em Ritmo de Fuga” parecia mais um daqueles filmes de corridas de carros, uma mistura de “Velozes e Furiosos” com “Velocidade Máxima” e “Driver”. Não me chamou muita atenção justamente porque sei dessa piração dos norte-americanos por filmes e cenas de ação de fugas de carro, e isso nunca me pegou. Mas botei reparo porque o protagonista (Ansel Elgort, aquele mocinho de “A Culpa É das Estrelas”) era um jovenzinho com pele de bebê (“Baby Driver”, título original do longa), marrento, carismático e danado ao volante, ao lado de dois atores que gosto muito: Kevin Spacey e Jamie Foxx.
Foi aí que, mesmo sem muita empolgação, fui ao cinema ver qual era a do diretor Edgar Wright. E essa falta de empolgação se reverteu em euforia já nos primeiros cinco minutos de filme. Ali, na primeira fuga, muito bem-cadenciada ao som do iPod do protagonista, vi que era um filme diferente. Na história, Baby (Elgort), um habilidoso e talentoso condutor, especialista em fugas em assaltos, tem uma dívida com o chefe do crime, Doc (Spacey) e, por isso, trabalha para ele esporadicamente como motorista nessas fugas. Quando era pequeno, sofreu um acidente, ficou com um zumbido no ouvido e, por isso, para se concentrar, está sempre escutando música no fone. Assim, ele confia em sua batida pessoal para ser o melhor no que faz. E acaba sendo… E o melhor: a trilha sonora dos seus ouvidos é transportada para nós durante toda a ação eletrizante, dando ritmo às cenas e cadenciando cada movimento. Eu disse: cada movimento, do incrível plano-sequência em que Baby vai caminhando saltitante na rua pra comprar um café (em que seus passos, movimentos dos braços, cenário externo por onde passa ou esbarra, numa dança urbana solitária e feliz, tudo é milimetricamente ritmado ao som que está escutando, um exímio trabalho de montagem do diretor) ao compasso perfeito entre música e barulhos nas cenas, como de tiros, batidas e pneus no asfalto – tudo é feito no embalo exato das canções.
É claro que o mocinho, sendo bonzinho do jeito que é, está doido pra sair do mundo do crime. Quando encontra a garota dos seus sonhos, Debora (Lily James), Baby vê nela a oportunidade de deixar para trás esse universo. No entanto, é claro que ele vai se ver coagido a trabalhar mais para o vilão, e aí começa outra fuga, em que o prêmio final seria o seu romance e a sua liberdade. E é aí também que o filme começa a falhar: quando o roteiro de amor parece prevalecer sobre aquelas cenas de ação de pura adrenalina, tão bem-gravadas, editadas e sincronizadas, você fica querendo mais. Até eu que, como disse no início do texto, não ligo muito pra cenas de carros voando baixo senti a diferença. Depois do meio do filme, você fica esperando por mais cenas arrebatadoras como as do início e fica um pouco órfão.
Mas isso não é o fim do mundo. O longa – um dos melhores deste ano até então – continua intenso, a caçada, ritmada, e as playlists de Baby, numa harmonia perfeita com as cenas. São incríveis as referências cinematográficas que o diretor faz ao longo da produção. Da pizzaria “Good Fellas” ao ritmo frenético de “Pulp Fiction” ou aos automóveis voadores de “À Prova de Morte”, daria facilmente para ser um filme de Scorsese ou Tarantino. E o visual descolado e colorido homenageando os anos 80 dá o tom vintage e musical necessário.
Necessário mesmo seria se a nossa vida fosse vintage e musical desse jeito. Se até os nossos pequenos gestos fossem sincronizados com batidas musicais, conseguiríamos sobreviver à adrenalina do dia a dia. Seria sonhar demais ter um iPod no bolso e um fone no ouvido cadenciando cada humor que vivo ou cada cena que vivencio? Se a magia do cinema pudesse ser transportada, certamente escolheria ter uma vida ritmada.
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira!
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