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Crônica: A disputa diária

Mais um dia calmo nas cidades metropolitanas e… Fiquei em pé no ônibus. De novo. Tudo isso porque aquela disputa, lá na hora de entrar, não foi bem sucedida. A batalha pela busca do tão sonhado banco vazio ou lugar próprio perfeito para aproveitar aquele soninho ou ler um bom livro. Aquele empurra empurra na entrada do ônibus muitas vezes não são favoráveis a meninos sonolentos como eu. Ora, justo eu que faria o melhor proveito do lugar? 

 

Devo me lembrar de vários presentes dados por Deus nessas situações (lugares vazios), mas, principalmente, devo descrever a situação que me motivou a escrever esta crônica: 

 

Uma bela sexta, à noite, horário “maravilhoso” para se sair de casa, estava eu saindo do trabalho (seria irônico se não fosse tão trágico), cansado e sem esperanças de conseguir o lugar próprio, mas eis que me surge uma luz, quando o ônibus da minha cidade passa vazio do outro lado da rua. Meu sorriso foi notado por todos do ponto, o que já fez se armarem e tomarem suas posições para a disputa. Pensei: “Como não tem nenhum ponto antes do retorno, ele chegará vazio até mim”. A esperança e a alegria tomou conta, mas, por um momento me esqueci que eu era um metropolitano e que aquele ponto era um ponto metropolitano, mesmo sendo localizado na capital. E foi assim que a batalha começou pelos poucos locais próprios que haviam lá dentro. Foi nessa hora também que um senhorzinho me “enfrentou” e saiu na minha frente e de quase todos da disputa. Não vou mentir que o xinguei bastante mentalmente. Ele pegou o último banco. Aquela desilusão estava de volta. “Não vai rolar o soninho da volta”, pensei. Não, espere aí. Uma luz estava lá no fundo. Um lugar próprio estava lá, escondido pra mim. Aquele mesmo sorriso volta a aparecer em meu rosto e a oscilação de sentimentos volta ser dominada por alegria. Foi assim que meu soninho da noite foi garantido.

 

Deixo claro que a situação narrada é uma raridade. Costuma-se acontecer uma vez a cada dez anos. Aguardo ansiosamente a minha próxima década. 

 

Esta crônica é uma homenagem a todos que batalham diariamente por um lugar vazio no ônibus vermelhinho.

 

Toda terça, uma crônica, com um relato metropolitano…

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Charles Douglas
Virginiano, metropolitano de Ibirité, mas com a vida construída em BH, jornalista recém formado e apaixonado pelos rolês culturais da capital mineira. Está perdido no mundo da internet desde quando as comunidades do Orkut eram o Culturaliza de hoje. Quando não está com a catuaba nas mãos, pelas ruas de Belo Horizonte, está assistindo SBT ou desenhos no Netflix.