Luiz CabralComentários desativados em Luiz, Câmera, Ação: Ingerindo fé e autoconfiança
Filme: Philomena
Ano de lançamento: 2014
Gênero: Drama
País: Reino Unido, EUA e França
Diretor: Stephen Frears
Trailer:
Todo mundo com quem convivo já sabe: sou fanático pela Netflix! Nesta semana, assisti a mais um filme em casa e cá estou pronto pra indicá-lo. Nomeado em quatro categorias do Oscar 2014, “Philomena”, do diretor Stephen Frears, conta a história da personagem-título (Judi Dench), que, na Irlanda dos anos 50, engravidou ainda menina e foi parar num convento. Lá, as freiras cuidariam da criança, em troca de seu trabalho, fazendo com que ela concordasse em oferecê-la para adoção. O menino foi adotado por norte-americanos, e, 50 anos depois, Philomena ainda se via infeliz e culpada por não ter procurado e reencontrado seu filho. Até que ela encontra Martin (Steve Coogan), um jornalista político que tinha acabado de ficar desempregado e procurava algo novo e instigante para fazer – e esse investigativo projeto de “interesse humano” lhe cai como uma luva. Ele vende a ideia da matéria para uma editora e vai à procura do filho de Philomena ao lado dela, numa trama de descobertas, envolvendo, sobretudo, a religião.
O melhor desse filme é que ele traz consigo uma fórmula que, particularmente, me cerca de todos os lados: o roteiro é muito bem-encaixado, redondinho, cheio de flashbacks, e tem como maior mérito deixar a história acontecer de forma quase casual, com ênfase na convivência dos dois personagens antagônicos, embalados por uma trilha deliciosa e com espaço para pitadas de humor. Ela, muito católica, se bobear, perdoa até as freiras carrascas que venderam sua cria. Ele, ateu de carteirinha, fica indignado com a postura dela e com a atitude maligna das religiosas. Talvez por isso ele queira tanto ajudá-la. E por mais que a história da protagonista seja triste e comovente, o filme não é daqueles de morrer de chorar. É um drama no ponto. Pronto pra te emocionar.
A emoção se constrói no sofrimento de Philomena. Poxa, imagine passar a vida inteira sem notícias do filho? Às vezes, ficamos horas ou dias sem um contato com alguém, e o surto é imediato, dá pra imaginar se forem décadas? Segura em sua fé, Philomena passou todos esses anos até bem. Todo mundo precisa de algo em que acreditar, de um sentimento abstrato para o concreto se realizar. E ela seguiu assim, até não conseguir mais, quando os questionamentos chegaram ao limite. Pois, a partir daí, ela chegou a um ponto não de dúvida em sua fé, mas de busca de autoconhecimento de sua história. Não estou querendo dizer que demoremos 50 anos para nos questionar. Cada um tem seu tempo. Tempo de colocar o foco no seu interior e enxergar que o futuro, seja ele daqui a 15 minutos ou daqui a 15 anos, depende só daquilo em que acreditamos.
Martin, em um momento do filme, cita o poeta inglês Tess Elliott: “O fim da nossa exploração será chegar aonde começamos e perceber o local pela primeira vez”. Devemos nos explorar, nos pesquisar, nos examinar, nos analisar, nos estudar… Se não fizermos isso, quem mais vai fazer? O novo está logo ali. Bastam um gole de paciência, um trago de perseverança, um sorvo de fé e esperança para o resultado ser uma bela digestão de autoconfiança, que, pra você, é o melhor alimento que já pôde ingerir.
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira!
Palpiteiro de plantão, Cabral é, atualmente, responsável pelas colunas SuperDicas (@superdicasbh), com sugestões de gastronomia e diversão na capital; Nossas Histórias, com textos de cotidiano e comportamento; e Luiz, Câmera, Ação – www.luizcameraacao.com, com indicações de filmes e reflexões sobre o que a magia do cinema faz nas nossas vidas. A sétima arte, inclusive, é a sua maior paixão. Aqui neste espaço ele vai narrar, com sensibilidade e crítica, como um filme pode ser muito mais que duas horas de diversão na poltrona do cinema.
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