Se você é desses que tem preconceito com a literatura brasileira, não vai espontaneamente, ler “A Mocinha do Mercado Central”. A capa pouco atrativa e a referência ao mercado de BH dá uma conotação totalmente diferente da história do livro, mas é pra isso que estamos aqui, para dar dicas e quebrar as barreiras que ainda persistem em existir na nossa literatura. O livro, vencedor do prêmio Jabuti (2012), é da escritora mineira Stella Maris Rezende, que já publicou 40 livros. Stella Maris é uma escritora premiadíssima e já venceu o Prêmio Nacional de Literatura João-de-Barro três vezes. Com todo esse sucesso ela não poderia ficar de fora dessa coluna.
Como seria se você pudesse viajar pelo Brasil afora assumindo um nome e uma personalidade diferente em cada lugar que passasse? Pois bem, essa é a história que Stella Maris nos conta em “A Mocinha do Mercado Central”. A personagem principal é Maria Campos, uma moça simples do interior de Minas, que estimulada pelas teorias sobre significado dos nomes, da amiga Valentina Vitória, decide sair pelo Brasil assumindo um nome diferente e agindo conforme o seu significado em cada cidade que visita. Com apenas 18 anos “ela queria ser todas as moças que ela pudesse ser, a partir dos nomes que ela mesma escolhesse para si…” Na sua imaginação ela foi Zoraida, mulher cativante e sedutora que trabalhava em um restaurante na época da inauguração de Brasília em 1960. Na realidade ela foi Teresa, em São Francisco, no Norte de Minas, uma enfermeira prestativa que trabalhava como voluntária em um hospital pobre. Em São Paulo foi Simone, uma vendedora ambulante da famosa 25 de Março. Em Belo Horizonte, foi Miriam e no Rio de Janeiro, Nídia. Em São João Del Rey foi Gilda e de volta a sua cidade natal, depois de três meses de andanças, mais experiente e totalmente diferente de quando partiu, ela se tornou Selma, mas voltaria a ser Maria em uma dessas reviravoltas que a vida dá. Maria é tão humilde que mesmo tendo essa possibilidade de assumir uma identidade e viver de forma diferente, ela mantém sua simplicidade e escolhe profissões e trabalhos em prol do próximo, ajudando e servindo àqueles que estão a sua volta.
“A Mocinha do Mercado Central” só chega no mercado de fato, no meio do livro, quando utilizando o nome de Miriam ela decide conhecer a capital. Aqui tem um encontro marcante com um desenhista, o seu primeiro amor real, já que a personagem tem um crush no ator Selton Melo, que não só participa do livro no prefácio como também é um dos personagens da história. As andanças de Maria aos poucos vão revelando dramas reais como estupro, suicídio, tráfico, ao mesmo tempo em que é uma história sobre liberdade, perdão, recomeço, reencontro e descobertas. Inclusive para mim, jornalista que adora ler, mas nunca tinha ouvido falar no Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, que reúne um dos maiores acervos literários com mais de 350 mil exemplares e a maior coleção de obras portuguesas fora de Portugal. Isso mostra que quanto mais você lê, mais conhecimento adquire.
Gosto de livros com ilustração (me julguem), eles nos ajudam a encaixar o personagem à história com mais facilidade e no caso deste livro, a arte gráfica de Laurent Cardon é perfeita. A escrita de Stella Maris é sutil, poética e atual. É um livro fácil de ler, mas me confundiu um pouco no início quando tive dificuldade de entender se ela estava pensando ou vivendo em Brasília. “A Mocinha do Mercado Central” é fininho e com apenas 112 páginas, Stella Maris me prendeu em uma tarde e só me deixou sair depois de apreciar a sua obra.
Motivos para ler “A Mocinha do Mercado Central” – Stella Maris Rezende:
- É ilustrado;
- É mineiro;
- Cheio de reviravoltas;
- Poético;
- Lúdico.
Esta coluna é publicada aqui, todas as segundas!
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