Pela estreita rua que nascemos
O choro é a primeira face que doamos
Talvez por isso
Quando há amor
Escorra
Haja vielas pra tanta cachoeira
Que é encontro
De água com barranco
Isso já disse um Rosa
Por mais que fuga
A água que passa
Leva sempre um pedaço
Dai que sejamos sempre
Pedaços
Que bonito é um mosaico
Um humano
Que é mosaico
Feitos de várias curvas
Fruto e fruta
Fecundado de passagem
Às favas essa coisa de um só
Que seja em mim
Toda a dimensão de mundo
Sobretudo do que não é
Para que haja invenção
Haja invenção!
Agora me recolho
Ao pé de mim
Escondido no entre da palavra que eu disse
E do poema que nunca escrevi
Que nunca hei de escrever
Enquanto estas letras caem pela tela
Menos um choro
Não devíamos escrever
Os poemas chegam após o encontro
Impossível!
Bernardo Nogueira
Bernardo Soares