Uma mãe é capaz de tudo pelo filho. Isso todo mundo sabe. Mas quando o assunto é o envolvimento desse filho no mundo das drogas, tudo fica mais sofrido, aflitivo, desesperador. Porém, dificilmente uma mãe pula do barco. Encara de frente o problema e não vê a hora de essa dor insuportável findar. Esse tema, retratado recentemente no filme “Querido Menino”, também é o mote de “O Retorno de Ben”, do diretor e roteirista Peter Hedges, longa que está em cartaz nos cinemas. Na história, Ben Burns (Lucas Hedges, talentoso filho do diretor) é um problemático jovem que volta para a casa de sua família certa noite de Natal. Sua mãe preocupada, Holly (a unânime Julia Roberts), o recebe com todo amor, porém, o mesmo não acontece com o restante da família, que não acredita na total reabilitação do rapaz – por causa, claro, de seu histórico familiar traumático. Assim, alertada, a mãe logo percebe que ele ainda pode trazer perigo para seu lar. A partir daí, ela propõe ao filho que ele fique para passar o Natal com eles, mas aceitando que ela ficasse como uma sombra dele para que nada de ruim ou errado acontecesse. Serão intermináveis 24 horas em que Holly vai fazer de tudo para impedir que sua família seja destruída.
O filme começa meio morno, mas tem uma carga emocional muito grande. Você acaba se vendo interessado na atmosfera de desconfiança e culpa destruidora que circula naquela família. Muito porque a identificação é imediata, muitos de nós já passamos por algo parecido. Julia Roberts está em um de seus melhores papéis: essa mãe desesperada, que sente essa dor frequente e terrível, sabe que o filho é uma bomba-relógio prestes a explodir, porém não consegue deixar de protegê-lo. A personagem supera os medos e as aflições, sai de sua zona de conforto e desbrava territórios perigosos, tudo por amor. E a atriz desenvolve um belo trabalho de atuação e química com Lucas Hedgers, que também está excelente! O ator, que é um dos maiores talentos da nova geração de Hollywood e foi indicado ao Oscar por “Manchester à Beira-Mar”, em 2017, carrega muito bem o peso de viver um jovem em fuga das drogas, carregado de falhas, anseios e descontroles. Ele consegue ser ambíguo e transparecer o desespero por cura e redenção do personagem. É doloroso lutar contra os vícios internos, e o ator mergulha nessa autodestruição, atingindo seu extremo.
Em um filme profundamente humano, o clima de inverno e a iluminação fria mantêm o tom cinza e sombrio da história. Assim, a narrativa pesada e melancólica fica ainda mais marcante. Essa véspera de Natal será a mais longa e exaustiva, um sacrilégio para uma mãe esperançosa. Esse assunto tão perigoso e contemporâneo, que precisa ser meticulosamente cuidado, dia após dia, deve ser sempre tratado no cinema. A vida de um dependente químico é uma explosão prestes a ser detonada, uma nuvem carregada esperando uma torrencial tempestade, um fósforo a ser queimado e destruído em segundos, um animal faminto e não domesticado bem perto de sua presa… Somente o amor materno (às vezes, nem ele) é capaz de unir, de cuidar, de tratar. Não importa a condição, a mãe pode não ser a solução, mas é o amor em forma de cuidado e atenção. Queríamos que esse amor fosse transformado em reabilitação…