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A hora do amor – Álvaro Cardoso

“A hora do amor” do escritor Álvaro Cardoso faz parte daquela seleta listinha de livros que lemos na escola e amamos. Pelo menos nas décadas de 1980 e 1990, a escolha dos livros clássicos como leitura obrigatória para as aulas de literatura, deixaram marcas profundas até mesmo “traumáticas” em muitos alunos.

 

Na contramão, livros como “A hora do amor”, “A marca de uma lágrima” do ícone Pedro Bandeira, “Depois daquela viagem” da escritora Valéria Piassa Polizzi, “E agora, mãe?” da escritora Isabel Vieira, são alguns dos exemplos que marcaram positivamente a minha geração.

 

Mas não pense que sou contra os clássicos, pelo contrário, só acho que para todo tipo de leitura há um momento oportuno. Para a minha geração, os clássicos da literatura, aliados a falta de incentivo fora da escola, são facilmente os responsáveis por reprimir o gosto pela leitura em muitas pessoas.

 

Em compensação à primeira vista livros como a “A hora do amor” podem parecer bobinhos, sem sal, mas tem uma função bem definida, a de levar o leitor para dentro da trama. Você se envolve com os personagens, se identifica com eles, e quando menos espera a leitura acabou, porém, dando início a sua primeira ressaca literária. Essa inquietação e o desejo por mais, te faz pegar outro livro pra ler e por aí vai.

 

A primeira publicação de “A hora do amor” foi em 1986, pela editora FTD. Álvaro Cardoso Gomes é crítico literário, poeta, romancista e ensaísta. Tem mais de 60 livros publicados, entre livros acadêmicos, ficção, poesia, literatura infantil e infanto-juvenil.  Já foi agraciado com os prêmios Bienal Nestlé de Literatura e o Jabuti.

 

“A hora do amor” conta a história do adolescente Beto. No livro não fala a idade, mas dá indícios de que ele tenha entre 15 e 16 anos. Beto vive uma vida simples com os pais e o irmão mais velho na cidade de Americana, interior de São Paulo. É um menino inteligente, que gosta de ler, brincar com o estilingue, nem sempre faz a lição de casa, é desobediente e muito mentiroso. 

 

“Nisso ninguém ganha de mim: conto a maior história e todo mundo acredita. Quando começo a inventar uma mentira, não paro mais, vou falando, emendando as coisas, tanto que às vezes até chego a acreditar no que conto.” (pág.9)

 

A vida simples de Beto seguiria seu curso normal, se não fosse a nova vizinha Lúcia Helena. De antipatia imediata a paixão arrebatadora, a amizade com Lucia Helena, faz Beto querer ser uma pessoa melhor.

 

“Boi no laço fica manso – papai gostava de dizer isto a respeito de qualquer coisa. Pois eu parecia boi no laço. Depois que Lúcia Helena ficou minha amiga, nunca mais matei aula nem deixei de fazer lição. Na classe, sentava ao lado dela e fazia o possível e o impossível para prestar atenção na aula.” (pág.29)

 

Mas todo esse sossego tem curta duração. Movido pelo ciúme da amiga, e sem coragem de abrir seu coração para ela, Beto praticamente surta. Todos os bons modos se evaporam, dando início a uma rebeldia frustrante e inconsequente. Somado a isso, acontecimentos marcantes na família dele vão contribuir para sua total transformação. Conhecer o amor e o turbilhão de emoções que ele provoca não faz nada bem ao nosso mocinho.

 

É engraçado que durante todo esse processo, eu só queria ser amiga dele. Dar uns conselhos e tudo seria resolvido. Mas o autor brilhantemente nos dá várias lições neste período. Beto precisava de amigos verdadeiros que nunca teve. Do apoio da família que sempre o tratou diferente de como o irmão mais velho era tratado. Quem sabe da escola, mas lá também não é um lugar acolhedor, por culpa ora de Beto, ora dos professores que não hesitavam em humilhá-lo na frente de todos.

 

Beto precisou de atenção e carinho. Todo o dilema da sua vida poderia ser resolvido com uma conversa simples. Mas a imaturidade, o rancor, a cortina de mentiras, e a tragédia familiar, moldaram uma personalidade fechada e introspectiva, impedindo que Beto saísse de lá.

 

A história se passa na década de 1960. O livro foi publicado a mais de 30 anos e é bem interessante ter acesso a cultura e aos costumes da época, os bailes, as relações com pouca conversa e zero abertura para desabafos.

 

É um livro triste, mas revigorante. O sofrimento dele é tocante, os dilemas, as atitudes tudo isso te faz ter empatia com o protagonista. O livro é curtinho, a linguagem é simples e fluída. Li em poucas horas e fiquei com aquele gostinho de quero mais. Aquele em que a gente fecha o livro e acha que os personagens estão por aí, vivendo em algum lugar.

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Esta coluna é publicada invariavelmente as segundas, porque às vezes o livro é bem grande (rs)

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Elis Rouse
Sou Elis, não sou Regina; sou do interior e amo a capital; sou jornalista, mas não trabalho em jornal; amo ler, sonho escrever; dicas vou dar, dicas quero receber; experiências vamos trocar; literatura brasileira vamos amar!