Não sei você, mas eu gostaria de ter vivido nos anos 20… Sabe aquela histeria coletiva, aquele glamour instantâneo, misturados ao charme das festas no melhor estilo cabaré, de alegria disfarçada? Então, eu seria um elegante cavalheiro em um terno branco slim, com o cabelo engomadinho, uma taça de champanhe em uma das mãos e um charuto aromatizado na outra. E é só eu assistir a um filme com esse cenário que fico todo melancólico, como se já tivesse vivido tudo isso em outra vida… Foi assim com “Moulin Rouge”, “Amelie Poulin”, “Meia-Noite em Paris”, “O Artista”, e, é claro, com “O Grande Gatsby”, filmão de 2013 disponível no Now, vencedor do Oscar 2014 de melhor figurino e melhor design de produção. E longas como “Gatsby” e “Moulin Rouge” (que, inclusive, são do mesmo diretor, Baz Luhrmann), em que a pegada é mais musical, dá uma vontade ainda maior de querer estar lá.
Em “O Grande Gatsby” – que não é um musical, mas tem uma trilha sonora muito envolvente –, a bela narrativa acompanha a vida do narrador Nick (Tobey Maguire) e sua ida para Nova York para tentar enriquecer. Lá, ele reencontra sua prima Daisy (Carey Mulligan) e seu cunhado, Tom (Joel Edgerton), e é apresentado ao falso glamour da cidade até conhecer Gatsby (Leonardo DiCaprio), seu vizinho rico, poderoso, influente e arrebatador.
Ao terminar de assistir ao filme e já querer escrever esta coluna, pensei em falar sobre muitos temas, pois o filme não é desses inesquecíveis, mas te deixa meio aéreo, encantado; satisfeito pelas lindas imagens, mas curioso pela riqueza de detalhes do clássico da literatura de F. Scott Fitzgerald. Porém, o que mais me chamou atenção foram os personagens. Talvez porque, como já disse, queria ser um deles. Nick me encantou pela sutileza. Um escritor, observador, soube guardar segredos de cada um a seu redor com maestria para, depois, contá-los a nós. Daisy me chamou a atenção pela covardia. Tom, pela esperteza. E tinha outra personagem linda, chiquérrima, da qual não me recordo o nome, mas que era a mais pura finesse.
Mas nenhum deles se compara a Gatsby, óbvio, o protagonista do filme. E DiCaprio parece ter sido moldado para ele. Nunca o havia visto tão inseguro e apaixonado, porém, arrogante e oportunista ao mesmo tempo. No enredo do longa, há uma busca de Gatsby em mudar o passado, em querer de volta o que não chegou a ter por completo. E o ator mergulha nessa vontade com tanta intensidade que você esquece completamente os meios pelos quais ele está buscando tudo isso. A ganância do ator em descrever as vontades explícitas daquele ambicioso personagem é tamanha que você tira da memória qualquer papel da vida dele e aplaude de pé aquela entrega artística única e poderosa. Viajei?! Sim, eu sei. Mas é que DiCaprio tem se entregado tanto a bons personagens, como o inescrupuloso Calvin Candie, de “Django Livre”, e o sonhador justiceiro Dom Cobb, de “A Origem”, que eu me perco nas letras e nas ideias.
Vou continuar viajando… O ator, talvez, assim como o personagem, gostaria de mudar o passado e refazer algumas cenas de “Romeu + Julieta”, “A Praia” e até mesmo de “Titanic”. E quem não gostaria de ter esse poder, não é mesmo?! DiCaprio e todo esse mundo de “Gatsby” foi só um gancho para eu mandar um recado: por mais intenso o sentimento de busca por algo desse insistente passado, nunca vamos conseguir redesenhar o que já foi moldado, nunca saberemos atingir um meio de resgatar totalmente aquilo que vivemos anteriormente. Estaria eu viajando outra vez? Não. Desta vez, estou só me consolando por não estar nos anos 20.
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira
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