Eu já toquei neste assunto várias vezes, mas é inevitável não falar da velhice. Eu não sou tão velho assim, nem é por causa dos meus pais, que ainda estão na flor da melhor idade. Mas é porque eu me dou muito bem com pessoas mais velhas, admiro-as pelas histórias que carregam e fico me imaginando no lugar delas. Após um dos meus textos sobre o tema, minha amiga jornalista Luisana Gontijo me indicou um filme. Eu já tinha ouvido falar sobre ele quando estava em cartaz no Belas Artes, há uns sete anos, mas esse foi o estopim para vê-lo.
O delicado longa francês “E se Vivêssemos Todos Juntos?”, de Stéphane Robelin – que você consegue ver de graça, no YouTube, ou no Now –, conta a história de cinco amigos – dois casais e um solteirão mulherengo – que começam a enfrentar os problemas da terceira idade. Jeanne (Jane Fonda) se descobre com câncer e não conta nada pra ninguém, nem para o marido, Albert (Pierre Richard), o mais esclerosado da turma, que já precisa anotar tudo o que acontece ao seu redor, pois se esquece de tudo. Já no outro casal, o revoltado Jean (Guy Bedos) é acalmado por Annie (Geraldine Chaplin), que não consegue se acostumar a viver longe dos filhos e dos netos, que não os visitam mais… Já o don-juan da terceira idade é Claude (Claude Rich). E, ao quinteto, se une um companheiro bem mais jovem, Dirk (Daniel Brühl), um cuidador informal que aparece quando os mais velhos decidem resolver seus problemas morando juntos. O que já era esperado pelo título do filme.
O cara mais novo e os próprios veteranos procuram interrogar e deixar em voga como é a vida das pessoas mais velhas. Os problemas sexuais, a vida no asilo, a inquietude sobre o que fazer quando se aposenta, os esquecimentos, os movimentos que já não são tão bem calculados e tantos outros resquícios que demonstram que a idade realmente não perdoa. Mas por que temos a ideia fixa de que os mais velhos não têm ou não podem ter uma vida agitada como a nossa? Você acha que aquele idoso é menos que você porque ele já não se movimenta como antes, não faz sexo como antes, não libera endorfina ou produz “aquela carnificina” como antes?
Sério, não se deixe enganar! O pior do mundo é aquilo que já vem generalizado. E Fernanda Torres está aí para combater qualquer senso comum ou preconceito contra os idosos. Eu me lembrei da atriz, que também é autora, porque, em seu primeiro trabalho literário, o livro “Fim”, a atriz discorre sobre a terceira idade com uma narrativa que te prende tanto que parece que são os velhinhos que estão te contando as histórias. A obra conta o fim da vida de cinco amigos: Álvaro, Neto, Ciro, Ribeiro e Sílvio. Cada um morreu em uma época distinta e cada um teve uma história. Você, que acha que um idoso não faz nada ou tem o sedentarismo como principal companheiro, iria ficar boquiaberto com as puladas de cerca de um, o envolvimento com drogas e bebidas do outro, a inteligência, sagacidade e experiência de um, a displicência, moralidade e irrelevância do outro. São seres ricos de trajetórias, recheados de evolução, amargurados ou apaixonados pelo jogo da vida e pelo poder dos quilômetros rodados. Só de eles serem mais velhos já não merecem respeito? Sim, merecem! Só de eles terem mais calos nas mãos não são dignos de ter mais direito ao creme hidratante da vida? Claro que sim. Um simples espaço reservado numa poltrona frontal do ônibus ou uma fila especial para atendimento mais rápido no banco e no supermercado são o mínimo para quem já esperou tanto tempo na vida.
Pode até parecer clichê, mas o idoso de hoje é o que amanhã será você. É só viver a brisa do amanhecer, o sopro do anoitecer, o vento do conhecer, para o dilúvio do envelhecer acontecer.