Não podia ser diferente: você entra na sala de cinema, se acomoda, mal coloca a primeira pipoca na boca, e, assim que o filme começa, aquela avalanche de cenas de ação toma conta de sua visão. Foi assim em 2015, quando assisti pela última vez a um “007”. Lembro como se fosse hoje: em “007 Contra Spectre”, do diretor Sam Mendes – que agora está disponível no Telecine Play –, assim como em todo longa da franquia com James Bond como protagonista, as armas cinematográficas são esses cortes de ação, precisos, milimetricamente desenhados, meticulosamente estudados.
O plano-sequência da primeira cena, em uma tomada na Cidade do México, em pleno Dia de Finados, em uma confusão numa espécie de desfile do dia dos mortos, já declara abertamente o que o espectador verá nas próximas duas horas e meia de filme, que é o agente 007 faz de melhor: correr, lutar, brigar, bater, vencer e conseguir tudo o que quer por meio das melhores habilidades de um espião renomado e inesquecível.
Daniel Craig, aliás, já mostrou que é o Bond contemporâneo mais cheio de energia e vitalidade da história dos “007”. O ator tem um vigor impressionante, algo que te deixa realmente acreditando que ele pode fazer todos aqueles movimentos surreais e sair vitorioso em tudo. As perseguições de carro em Roma, num avião sem asas na Áustria ou dentro de um vagão em movimento na África não me deixam mentir. E é justamente nesse ponto, na mentira e no exagero, que estamos terminantemente proibidos de nos aprofundar quando assistimos a um “007”. É tanta cena fora da realidade que, se você não mergulhar na história e entender que a linha cinematográfica da série é essa, você levanta da poltrona nos primeiros dez minutos de filme e sai da sessão falando mal até da última geração desse tal James ‘Maguiyver’ Bond.
E, definitivamente, essa não é a proposta. Essa imersão no mundo do bonitão britânico deve acontecer naturalmente, sem sofrimento ou dúvidas… tal como a certeza de que ele nunca perde na primeira luta, nem na segunda, nem na terceira; de que, no mínimo, três Bond Girls vão pra cama com ele a cada longa; e de que o cara vai lutar o mais violentamente possível e terminar o embate impecável, em seu terno inglês caro sem nenhuma mancha de sujeira ou o cabelo sem nenhum fio desalinhado.
O fato é que nós sempre temos escolha: podemos assistir e mergulhar na história ou criticar e levantar da poltrona – porém, assim, perder um momento de lazer tão diferente e inovador. Sim, inovador, porque, a cada cena de perseguição ou de luta, ou a cada filme da franquia do Bond, do “Missão Impossível” de Tom Cruise ou do “Duro de Matar” de Bruce Willis, tudo é muito novo… tudo é cada vez mais inacreditável, inverossímil, surreal. Vou ser sincero: não curto muito filme de ação, não. Mas se a proposta é imergir na roleta russa do discutível e do inaceitável, por que não escolher a diversão? A vida é muito curta para não provar de todos os sabores. Mantenha seus gostos, eles são sua imagem. Mas nada melhor que literalmente viajar no mundo de um agente secreto imbatível pra perceber que você pode “voar sem ter asas, caminhar sem tirar os pés do chão, sonhar acordado, navegar em um mar de ilusão”.
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira
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Palpiteiro de plantão, Cabral é, atualmente, responsável pelas colunas SuperDicas (@superdicasbh), com sugestões de gastronomia e diversão na capital; Nossas Histórias, com textos de cotidiano e comportamento; e Luiz, Câmera, Ação – www.luizcameraacao.com, com indicações de filmes e reflexões sobre o que a magia do cinema faz nas nossas vidas. A sétima arte, inclusive, é a sua maior paixão. Aqui neste espaço ele vai narrar, com sensibilidade e crítica, como um filme pode ser muito mais que duas horas de diversão na poltrona do cinema.
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