Quando você pensa que já viu de tudo nesta vida (e nos cinemas), aí vem Deadpool e pá!, nos surpreende com um segundo filme ainda mais ousado, mais engraçado e muito mais maluco. Após o enorme sucesso do primeiro longa do anti-herói desbocado da Marvel, em 2016, a sequência “Deadpool 2”, que está em cartaz nos cinemas, é pra deixar qualquer fã dos quadrinhos de heróis e do humor negro e pastelão em êxtase total.
Como era de se esperar, o filme do diretor David Leitch usa e abusa do humor ácido e emblemático do personagem, numa metralhadora de piadas que foge dos padrões dos filmes de super-heróis, e aumenta o nível das cenas de ação. Tudo é possível para o mercenário, que, após mutação genética no primeiro filme, passa a ter superpoderes e a capacidade de se regenerar facilmente. É nesse ponto, inclusive, que a produção se diverte o tempo todo, em que pernas arrancadas e braços quebrados e contorcidos são naturais como num filme de Tarantino. É uma violência gratuita e sem dó que dá gosto, tudo alinhado à zoação e aos comentários infinitos do protagonista tagarela.
Ele fala tanto que conversa até com o público. Desde o primeiro filme Deadpool é conhecido por quebrar a quarta parede – que, numa explicação rápida e objetiva, significa interagir com um universo diferente daquele em que está inserido. Nesse segundo filme, então, o personagem parece ligado nos 220 V, interagindo não só com o público, mas com a indústria do cinema, da música, do showbiz e com a cultura pop. As piadas envolvem Wolverine e todos os X-Men, Harry Potter, Vingadores, Robocop, os heróis da concorrente DC Comics e até Josh Brolin, que interpretou Thanos em “Vingadores: Guerra Infinita” e agora vive Cable, o vilão de “Deadpool 2”, que vem do futuro fortemente armado e perigoso. Ele manda até você pesquisar no Google o que é “dubstep”, um gênero de música eletrônica que se originou em Londres no fim da década de 90 – e, por falar em música, a trilha vai de Celine Dion e Cher a Wham! e A-Ha.
É tanta referência e interação que você pode ficar um tanto perdido. Só vai querer saber de rir e gargalhar. E as risadas acontecem naturalmente, realmente uma atrás da outra. Tudo por causa de Ryan Reynolds, que também produz, assina o roteiro e, mais uma vez, prova que caiu como uma luva na pele do anti-herói aspirante a X-Men. Ele faz piada consigo mesmo e com sua carreira o tempo todo. E isso é muito divertido. Tudo de uma maneira tão genuína que você fica esperando a próxima piada ou ele “conversar” com você.
Assim, nada no filme é levado a sério, num espírito zoeiro sem fim, talvez por isso encante e divirta tanto. O tom usado é extremamente descontraído e leve, mesmo diante das cenas recheadas com a mais tensas cenas de ação, com muito sangue e mortes. E os outros atores/personagens também entram na dança. O jovem Russell Collins (Julian Dennison), a mutante da sorte Dominó (Zazie Beetz), o amigo Fuinha (T. J. Miller) e a mocinha Vanessa (vivida pela brasileira Morena Baccarin), além do vilão Cable, se destacam, dão o tom necessário ao senso de humor do protagonista, mas o longa é mesmo de Deadpool. Dá vontade de ver de novo por ele, esse boca suja apaixonante, esse politicamente incorreto impiedoso e cativante. O que nos resta é esperar pelas cenas pós-créditos (são imperdíveis e impagáveis) e pelo poder de X-Force em “Deadpool 3”, isso é estimulante. Um herói tão espirituoso e brilhante merece ser abundante.