Hoje é celebrado o Dia da Consciência Negra, um dia dedicado a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade na brasileira. Por isso chamo a todos que acompanham essa coluna desde o início do ano S2 para um exercício rápido: Quantos livros você leu este ano? Quantos destes livros tinha algum personagem negro? Quantos escritores negros você leu? Não precisa se assustar com as respostas. Costumo dizer que um leitor ávido geralmente escolhe a sua leitura pela capa ou pela história, mas assim como fazemos com a literatura nacional ao inseri-la propositalmente nas nossas metas, devemos fazer o mesmo com escritores negros, índios, e de todas as outras etnias e culturas. Não devemos nos ater como leitores a apenas uma cultura, a apenas um país que nos apresenta invariavelmente os mesmos personagens. Reflitam!
Escolhi “A cor da ternura” como dica de hoje porque é um livro de uma escritora brasileira, negra e que conta um pouquinho da sua história real em uma infância pobre, sofrida, permeada de preconceito, mas que passa uma mensagem tão linda e uma grande lição de humildade sobre como viver com ternura em um país racista.
Nele conhecemos a pequena Geni, uma menininha muito inteligente e de imaginação fértil, que vai nos contando um pouco sobre a sua vida. Ela começa narrando como foi forçada a largar o confortável peito da mãe, após a chegada do irmãozinho e como foi deixada de lado por isso também. Carente de afeto e de atenção, ela passa a se comunicar com os animais. Ouviu umas verdades da aranhinha que morava na sua casa. Tornou-se melhor amiga do bicho de pé. De repente passou a imitá-los para se relacionar com os adultos. Ria imitando as coleirinhas, latia quando queria negar algo, miava quando queria alguma coisa. Não demorou o padre mandou lhe colocar um crucifixo na cabeça. Com medo de “coisas ruins”, inteligente que era, parou com tudo e passou a conviver com as crianças da vila. Ali viajava por vários estados enquanto se balançava no balanço das crianças e também conheceu o racismo, que vinha forma de ofensas ao seu cabelo, a sua cor. Chegou a tentar se esfregar com a bucha improvisada que a mãe tirava o carvão das panelas, mas não conseguiu remover a sua cor. O jeito era enfrentar. A menina cresceu, o racismo companhia constante nascia todos os dias em todos cantos. Ela queria ser professora. E lutou muito, até que conseguiu. E no primeiro de dia aula, olha o racismo lá de novo.
A escritora Geni Guimarães em menos de 100 páginas consegue mostrar aos leitores de uma forma sensível e bem clara, as situações de racismo que viveu em várias etapas da sua vida. Gosto de histórias reais, de histórias simples de ler, com ilustrações e principalmente com conteúdo. Mais um livro que deveria entrar para lista de leitura obrigatória nas escolas. “A cor da ternura” tem isso tudo e uma lição enorme de que nada pode atrapalhar o seu sonho.
Geni Guimarães é uma premiadíssima escritora brasileira. Tem 4 livros publicados e diversas coletâneas de contos e poemas. Com o livro “A cor da ternura”, Geni venceu os prêmios Jabuti e Adolfo Aisen.
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