Filme: O Abutre
Ano de lançamento: 2014
Gênero: Supense, Drama
Diretor: Dan Gilroy
Trailer:
Desde quando entrei na faculdade de jornalismo, em 1999, não sabia muito bem o que iria encontrar lá na frente, depois de anos de formado. Mas um sentimento era certo: naquela época, aprendi direitinho o que não gostaria de ser/fazer/usar/vivenciar. O jornalismo sensacionalista nunca foi bem-visto, não só por mim, mas por quase 100% dos comunicadores. Quase todo mundo concorda que ganhar dinheiro/audiência/fama em cima dos sentimentos das pessoas, ou por meio do exagero, ou por assuntos insignificantes e tendenciosos, é algo inaceitável/abominável/execrável. Eu trabalho há 12 anos em um jornal tabloide popular, o que não quer dizer que ele seja sensacionalista. Muita gente confunde isso. A linguagem informal, os temas mais leves/populares/triviais, além do preço mais acessível, não fazem do Super Notícia um jornal sensacionalista. Costumo dizer que o Super chega a ser o jornal “BBB”. Tem “bala, bola e bunda”. Mas o trabalho é bem sério. Ali também tem prestação de serviço, informação bem variada e ampla, e o mais importante: não brincamos com a verdade, muito menos com respeito/inteligência/integridade do leitor.
Toda essa reflexão foi para demonstrar como eu fiquei após assistir ao filme “O Abutre”, do diretor estreante Dan Gilroy, disponível na Netflix e que traz o ator Jake Gyllenhaal em um de seus melhores papéis. O longa conta a história do enigmático/frio/obsessivo/manipulador ladrãozinho de meia-tigela Louis Bloom. Enfrentando dificuldades para conseguir um emprego formal, ele decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles, nos EUA. A fórmula é correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo com uma câmera e vender a história para veículos interessados. O filme é uma espécie de análise niilista do popular jornalismo mundo cão. E o mais louco/inimaginável/assustador é o sangue nos olhos do protagonista, um verdadeiro papa-defunto, ou melhor, um abutre, o célebre urubu na carniça.
Para isso, surge Gyllenhaal, que emagreceu cerca de dez quilos para o papel e ficou com um aspecto doente/chupado/demente/paranoico, que mais parece um psicopata na frente de sua vítima. No início, ele demonstra ser apenas um desesperado inofensivo com uma boa oportunidade nas mãos. Mas, esperto e com uma desenvoltura apavorante, ele vai crescendo na profissão, tendo como única chave para o sucesso a falta de escrúpulos e o desvio incrédulo de caráter. Até onde pode ir um ser humano, quando, na verdade, ele já atropelou/escalou/detonou/passou por cima de outro ser humano? Qual o limite entre ter um jeitinho brasileiro de resolver as coisas e se tornar um anormal, contaminado pela ganância e pela avidez da falta de moralidade? Sinceramente, estou longe de entender a mente de pessoas assim, que se dizem espertas, mas são um estorvo, a mais pura classe débil, sucumbida pelo estúpido e covarde poder da manipulação.
Se fosse para eu escolher morar em um lugar, tipo Nárnia, Hogwarts, ou o reino de “Avatar”, a galáxia de “Star Wars”, ou até mesmo a ilha de “Lost”, ou o pântano de Shrek, eu escolheria viver a experiência de olhar nos olhos do outro e conseguir enxergar apenas verdade/franqueza/sinceridade. Sem demagogia. Seria mais fácil viver em um mundo em que nossas escolhas fossem baseadas apenas na lisura do altruísmo, no desengano da lealdade, na afeição da cortesia. Enquanto isso não acontece, sigo caminhando/sem pisotear, percorrendo/sem desprezar, peregrinando/sem deixar de respeitar.
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira!