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Crônica: Uma vida ou duas vidas para um sempre

Cora senta e lê o jornal que comprou na banca logo depois de passar na padaria onde comprou pães e dois sonhos.

 

Mais um dia de leitura para seu avô Zé. Ele não sabe ler e nem escrever “só sei assinar meu nome, do mesmo jeito que está na identidade”, ele diz. Cora fazia questão de ler para ele todos os dias. Lia minuciosamente o jornal e carinhosamente citava as palavras contidas e contadas num livro marcado com um trevo.

 

Este sublime posto pertencia a sua avó Dona Maria. Ela se foi justamente no momento que Cora a alfabetizava. Percebendo um silêncio acompanhando um sorriso fechado do Seu Zé e, mesmo sendo ainda criança, sem entender muito bem os assuntos do impresso diário e o significado de algumas palavras do livro, continuava, amavelmente, a fazer o que a avó fazia.

 

Mesmo sendo os assuntos tão diferenciados e as palavras novas, sentia o bem que fazia e apreciava o não mudar das conversas logo depois daquelas leituras comendo os deliciosos sonhos e vivendo realidades.

 

Mais do que dava, recebia!

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