Já parou pra pensar que, em absolutamente tudo em nossas vidas, somos dependentes do tempo? O relógio comanda cada ato do ser humano, governa cada pensamento, aponta cada direção, seleciona cada intenção. Acordamos, comemos, estudamos, trabalhamos, nos divertimos, dormimos, tudo em função do tempo. Tem hora que você até acredita que está com as rédeas nas mãos, mas não… o reloginho está ali, na parede, no pulso, no celular, mostrando quem é que manda neste lugar. Porém, o filme “A Teoria de Tudo”, do diretor James Marsh – que está disponível na Netflix –, vem pra demonstrar com todas as letras que esse tempo é relativo, não é uma verdade universal. Segundo renomados cientistas e conhecendo um pouco da teoria da relatividade, percebe-se que esse tempo pode ser mais rápido ou mais lento. Vai depender de tudo à sua volta, claro. Uma aula chata de duas horas daquele professor aloprado é bem maior do que duas horinhas no clube naquele sábado ensolarado. Sessenta segundos de um abraço apaixonado é pouco demais se comparado ao mesmo tempo de espera na linha telefônica, entediado.
Dentro desse papel temporal, “A Teoria de Tudo” traz uma história de amor e superação capaz de te deixar emocionado do início ao fim, refletindo como o tempo é um verdadeiro paradoxo, às vezes belo e azul, às vezes cinza e traiçoeiro. O longa mostra a trajetória do talentoso inglês Stephen Hawking (Eddie Redmayne), que está no auge de sua vida acadêmica e iniciando um romance com a jovem Jane Wilde (Felicity Jones) quando descobre, na década de 60, aos 21 anos, ter uma doença motora degenerativa. Nesse diagnóstico, que mais parece uma sentença de morte, o ainda estudante sofre o baque, resolve abandonar tudo e se entregar. Mas é sua namorada e futura mãe de seus três filhos que lhe dá forças para continuar, e não importava quanto tempo esse tal tempo iria contabilizar. Dentro desse pensamento e de todo o drama vivido por um gênio que desenvolveu teorias sobre o tempo que são estudadas e reavaliadas até hoje, o ator Eddie Redmayne (que já tinha chamado a atenção do público no musical “Os Miseráveis”, de Tom Hooper) emociona e convence no papel de Hawking, fazendo jus ao Oscar de melhor ator que ganhou em 2015 – no ano seguinte, ele também surpreendeu pelo excêntrico papel principal em “A Garota Dinamarquesa”.
Dá pra imaginar? Os médicos lhe tinham dado apenas dois anos de vida, mas, por ironia do destino e do tempo, esse louco e insano método de se contar a vida, Hawking continua vivo até hoje, aos 73 anos, com status de gênio/celebridade e com direito a ter na bagagem o livro “Uma Breve História do Tempo” publicado, com milhões e milhões de cópias vendidas pelo mundo.
Um grande amor pode ser confundido com paixão e durar uma semana. Uma avassaladora paixão pode se multiplicar e, num piscar, se transformar em amor até a vida acabar. Eu queria cronometrar a sensação de um carinho de mãe, a mordida do chocolate suíço que faz até seus olhos virarem ou o mais intenso transe do gozo na hora da transa, a forma mais profunda de amar. Queria entender qual a diferença do tempo entre a inconsolável dor de chutar o dedo mindinho na quina do armário e aquela maravilhosa golada numa long neck de cerveja estupidamente gelada. “O tempo é a minha resposta”, diz o intelectual, rimando com toda essa teoria surreal. No doce balanço do movimento atemporal, a única certeza que tenho é que, todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou… Esse tempo, tempo, mano velho, que falta um tanto ainda, eu sei. Assim, só me resta deixá-lo correr macio!
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira!
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