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E agora, mãe? – Isabel Vieira

No mês das Mães uma história que vai mexer com o seu coração.

De todos os livros que li na escola esse é o único que me marcou profundamente e um dos poucos que eu me lembro da história do início ao fim. Tinha 15 anos e fiquei muito impactada quando terminei de ler. “E agora, mãe?” é daqueles livros que despertam vários sentimentos com uma história simples permeada de delicadeza, luta e amor. É muito bom indicar uma história que sempre esteve presente na minha vida.

“E agora, mãe?” é da jornalista Isabel Vieira, que já publicou mais de 20 livros, todos voltados para o público adolescente, tema bem conhecido dela que já trabalhou na Revista Capricho.  O livro foi publicado em 1991, com o tema polêmico para época, gravidez na adolescência e as consequências que ela acarreta para a jovem mãe e o pai, a família e os amigos. Conta a história de Jana, uma adolescente graciosa de 14 anos, sonhadora e determinada a realizar o seu sonho que é ser bailarina. Jana namora firme com Ivan, dois anos mais velho que ela, de “família boa” e com um futuro brilhante pela frente. Porém, uma gravidez inesperada muda o destino dos dois. Ao saber da gravidez, os pais de Ivan decidem manda-lo para fora do Brasil. Os pais de Jana se culpam pelo “erro” da filha e Jana tem que lidar com o preconceito escancarado da época, a decisão de ter ou não o filho, o dilema de abrir mão do seu sonho e construir uma nova vida.

 

Capas do livro “E agora, mãe?”

 

O livro se passa em uma época que as pílulas anticoncepcionais eram usadas pelas adolescentes para encorpar os xampus (eu já fiz isso) para o cabelo crescer mais rápido. Jana, acreditando que não engravidaria na primeira vez só começa a tomar a pílula, sem qualquer orientação, depois da primeira relação. Claro que a culpa da gravidez recai toda sobre ela e a família, que segundo as más línguas deu liberdade demais para a moça. Uma geração que culpa a televisão pelos impropérios da vida. Em meio à sociedade preconceituosa, ser mãe solteira não é nada fácil. Com o abandono de Ivan, o desprezo do pai, a desconfiança da mãe, Jana tem o apoio da empregada Lurdes, da tia Ligia e de uma única amiga do colégio a Talita, que é uma das minhas personagens preferidas.  Aliás, gosto de como Isabel construiu os personagens, eles são comuns e de fácil identificação. A história de Jana é como costumo dizer, fácil de acreditar e de acontecer. Poderia ser eu, você, uma amiga, mas com certeza conhecemos alguém que passou por uma gravidez na adolescência.

Gosto de como Isabel contextualiza a história de Jana com o momento político e econômico do país e a condição da mulher diante dos inúmeros preconceitos sociais da época.  De como ela não romantiza a gravidez expondo todos os problemas enfrentados pela personagem e a maneira como encara cada um deles. As analogias da história de Romeu e Julieta com a realidade de Jana e Ivan são pertinentes e bem inseridas no romance. A escrita de Isabel é uma delícia de ler, a leitura é ágil e vai te inserindo dentro da história. Quando termina dá a impressão de que Jana continua vivendo em São Paulo e encarando outros problemas que a vida, lógico, vai te dar.

 

 

Quase 20 anos depois de ter lido pela primeira vez, agora me identifico com a tia Ligia, uma solteira convicta, bem sucedida que vive um dia de cada vez, mas, confesso que por muitas vezes o destino de Jana me assombrou com o medo de não conseguir realizar os meus sonhos por conta de uma gravidez. A personagem é fictícia, mas retrata a realidade de muitas adolescentes que substituíram os seus sonhos em prol de uma criança que não pediu pra nascer, mas que precisa ser amada e protegida. “E agora, mãe?” é um exemplo de quando as escolas acertam em adotar como leitura obrigatória um livro que ensina e adverte, mas mostra que, por mais que o caminho seja árduo quando existe uma possibilidade de vitória deve-se lutar para alcança-la.

Obs. Sempre quis ter esse livro na minha estante, mas o preço que varia entre R$35 é R$ 40 é um absurdo diante do cenário de crise que passa o mercado literário nacional.

 

Motivos para ler “E agora, mãe?” – da escritora Isabel Vieira:

  • Intenso;
  • Útil;
  • Fácil identificação;
  • História que poderia ser real;
  • Marcante.

Esta coluna é publicada aqui, todas as segundas!

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Elis Rouse
Sou Elis, não sou Regina; sou do interior e amo a capital; sou jornalista, mas não trabalho em jornal; amo ler, sonho escrever; dicas vou dar, dicas quero receber; experiências vamos trocar; literatura brasileira vamos amar!