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Luiz, Câmera, Ação: Sob a percepção individual do cinema

Filme: Moonlight – Sob a Luz do Luar

Ano: 2017

Gênero: Drama

País: EUA

Diretor: Barry Jenkins

Trailer: 

 

 

Cinema é realmente uma arte muito particular. Às vezes, aquele filme ou aquela cena não fazem sentido nenhum pra você, mas, para outro espectador, é o filme ou a cena da vida. Você vai se esquecer daquilo tudo em segundos: o filme ainda nem acabou e você já está pensando no próximo, ou no que poderia estar fazendo se não estivesse “perdendo seu tempo ali”. Já o outro espectador está estático. Os letreiros estão subindo, e ele se encontra ali, parado, com os olhos marejados, a cabeça fluindo no mesmo ritmo do diretor, uma conexão jamais vista, sentida, perfeita.

 

Aconteceu algo parecido assim nos últimos dias: eu e vários amigos assistimos ao premiado filme “Moonlight – Sob a Luz do Luar”, indicado em oito categorias do Oscar 2017, incluindo melhor filme, e cada um teve uma percepção, um sentimento, um delimitador para uma obra rara, mas tão individual em sua apreensão e entendimento. Vou pegar como exemplo apenas um conflito de ideias específico, entre mim (cujo filme não me tocou tanto) e um amigo (que elegeu a produção como uma das melhores da temporada e torce por ela na premiação de domingo agora).

 

O filme do diretor Barry Jenkins narra três momentos da vida de Little/Chiron/Black, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami, nos EUA. Tratando do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e pela tentação do universo do crime e das drogas, a produção é um poético estudo de personagem. É essa a sinopse literal do longa. Poética até demais pra mim. Mas, para meu amigo, intensa em cada fase da vida dele. Segundo ele, “Moonlight” é um primor. É claro! Ele não está ali à toa. São tantas as indicações que eu, que não assimilei a produção como meu amigo, me vi fazendo alguns questionamentos. Um deles foi, inclusive, o que meu amigo me disse num grupo de WhatsApp: “Você não entendeu o filme!”. Poxa, como assim eu não entendi? Entendo que a obra é intrinsecamente visual. Algo tão delicado e sensível que somente poucos podem senti-lo em sua essência. Desde o início, quando o personagem de Mahershala Ali introduziu o subtítulo do filme (que, sob a luz da lua, garotos negros parecem azuis), eu captei a temática: vamos tratar da minoria, da diferença, do preconceito, da pequenez de como a orientação sexual, a miséria, as drogas ou a cor da pele podem guiar ou definir o que será do futuro de alguém.

 

Pelo fato de o menino (em sua infância, adolescência e até mesmo na fase adulta) sentir sozinho toda essa influência negativa, ele aprende desde pequeno a sofrer calado até mesmo como uma forma de defesa. No meu caso, incomodou-me o fato de o protagonista ser quase mudo e até mesmo ser embatido por outros personagens para que ele falasse, se soltasse. Já para meu amigo, esse silêncio reforça a surra que ele leva do dia a dia, emociona, testemunha certeiramente como o caráter e a personalidade podem ser moldados pelas pancadas de uma vida solitária e segregadora. A variante nessa nossa diferença aí é o toque. Apenas.

 

Sendo tocante ou não, a obra é tão visual que o mar fala por si: o oceano é libertador para o menino que aprende a nadar, pro adolescente que se entrega à primeira experiência sexual e pro adulto que ainda se depara com o cenário de pureza e felicidade, mesmo que ele não se sinta mais tão puro ou feliz com a vida que levou pra si. Pra mim, foram cenas belíssimas, pontos altos de uma fotografia impecável. Pro meu amigo, a luz nas águas do mar reflete o sofrimento e o desejo de liberdade não só do protagonista, como os dele também. É comovente, amplo, aplausível.

 

Eu poderia terminar de escrever aqui, pois minha sensação é a de que já escrevi tudo que o filme quis passar. E não acho pouco não: demonstro ter entendido a proposta do diretor, porém assimilado mais a lentidão da produção do que sua riqueza poética. Se eu paro por aqui, tenho certeza absoluta de que meu amigo não pararia. Ele poderia discutir, rabiscar, raciocinar, diluir, polemizar, refletir muito mais acerca de Black. Aliás, eu poderia escutar tudo o que ele tem pra dizer. Só acredito que eu, no meu discernimento individual de espectador, não tenho mais o que escrever. Essa é a real beleza do cinema, algo que sempre buscamos a nos atrever a viver.

 

“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira!

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