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O garoto (quase) atropelado – Vinicius Grossos

Vinicius Grossos é mais um nome da nova geração de escritores nacionais pra ficar de olho. Já apresentamos aqui vários desses autores como Lavínia Rocha, Felipe Barenco, Mariana Cestari que tem encantado leitores ao trazer para a literatura nacional temas atuais e em constante evidência, como racismo, homofobia e depressão.

 

Vinicius já tem 4 livros publicados: Sereia Negra (2014); O garoto (quase) atropelado (2015); 1+1 – A Matemática do Amor (2016) e O Verão em Que Tudo Mudou (2017). A marca da sua escrita é a inteligência, a simplicidade e o impacto que as suas histórias causam no leitor.

 

“O garoto (quase) atropelado” é uma história que me deixou impactada. Conta a história de um garoto propositalmente sem nome, porque o que acontece não é uma exclusividade de um personagem, é algo comum a todos nós. Logo nas primeiras linhas, o autor, mostra que o garoto sem nome tem um problema sério. Ele sofre de uma depressão profunda desencadeada após a morte do melhor amigo. As causas dessa morte não são imediatamente reveladas, mas já no início da trama percebemos o quão devastadora foi essa perda na vida do garoto.

 

“Nunca tive problemas para aceitar que a morte é a única verdade da vida; que seu poder é inevitável e que todos iremos morrer um dia. O doloroso mesmo é que, infelizmente, o momento de algumas pessoas chega mais cedo do que deveria.” (pág.89).

 

Apesar do nosso protagonista já ter quase 18 anos, ele é muito inocente, chegando até a ser meio bobão, daqueles cujo “rosto ainda queima de vergonha” perto de uma menina ou de algo minimamente constrangedor. Desde o acontecimento que levou a morte do seu amigo, ele vive enclausurado em casa, fechado no que denomina “caverna da depressão”. E escreve um diário a pedido da psicóloga para tentar entender o mundo ao seu redor, uma forma de escape desabafo.

 

“Felicidade, na minha opinião, é algo muito superestimado. O que é felicidade?” (Pág.29).

 

Logo nos primeiros dias de diário, o garoto se arrisca a sair de casa, e dar uma volta de bicicleta no seu condomínio, é aí que ele conhece a jovem que denomina “a cabelo de raposa”, por causa do ruivo dos seus cabelos. A bela jovem quase o atropela, e nessa quase morte ele se apaixona perdidamente por ela e ganha o apelido que dá nome ao livro.

 

“Penso o quão ruim deve ser viver em uma gaiola, seja ela do tipo que for; gaiolas físicas, gaiolas de sentimentos, gaiolas de alma. E, definitivamente, as gaiolas invisíveis que nos cercam, das quais muitas vezes nem ao menos temos consciência de que nos prendem, são as mais devastadoras.” (pág.35)

 

O garoto solitário e depressivo começa então uma busca incessante pela “cabelo de raposa”. Numa dessas coincidências do destino, ele não só a encontra como também conhece os seus melhores amigos, aquém infantilmente denomina: Acácio como “James Dean não tão bonito” e Natália “A menina de cabelo roxo”, além da Laís “A cabelo de raposa”. Dá início então a uma amizade conturbada, fiel e libertadora.

 

O garoto (quase) atropelado adentra no mundo dos três e percebe que eles são tão desajustados e psicologicamente fodidos quanto ele. Apesar de jovens, cada um carrega um trauma que justifica grande parte das ações deles na trama, bem como o rumo que a história toma. A paixão pela Laís só cresce, mas as tentativas relacionamento em sua maioria são frustradas. É um relacionamento nada romântico da parte dela, principalmente porque ambos precisam se libertar dos seus demônios.

 

“Os três demonstravam viver uma vida de coragem, liberdade e felicidade, mas no fundo estavam tão perdidos quanto eu. E uma coisa que eu havia aprendido com essas lições era que quanto mais você veste uma carapaça, finge ser mais forte do que é, menos oportunidade para resolver o problema ou se tornar mais forte você tem. O tempo gasto em fingir e agir como se já soubesse de tudo impede você de aprender.” (pág.81)

 

E esses demônios vem em forma de temas fortes e impactantes como depressão, homofobia, bulimia, abuso sexual, abandono familiar, bullying, violência, traição, morte e suicídio. A primeira lição da história é a importância das pessoas na sua vida, seja os amigos ou familiares. Eles são importantes em vários momentos, e aqui autor evidencia que certas companhias fazem bem, elevam o espírito, eles se ajudam, se confortam do jeito que podem e isso é muito legal.

 

“Como se cada um escondesse a sua verdadeira batalha com a vida, entende? E no fim das contas, você fica no centro porque você conseguiu nos entender, ajudar e amar cada um de nós à sua maneira. Algo que realmente não é fácil com pessoas tão diferentes como nós três.” (pág. 131)

 

A história do “garoto (quase) atropelado” é triste, melancólica, sufocante porque o tom de sofrimento, infelicidade, prostração é intensa. Mas tudo se sobrepõe aos ensinamentos de esperança, embora esta não seja uma obra de autoajuda, o autor sempre que pode insere várias pílulas de ânimo para não afundar o leitor na depressão e melancolia dos personagens. Talvez por isso meu personagem favorito tenha sido o Acácio, suas reflexões e tiradas dão o tom mais leve a trama. A Natália passa despercebida nos ápices da história. Enquanto a Laís em alguns momentos me despertou até antipatia pela forma como ela tratava o garoto e por atitudes intempestivas, infantis, sem contar na abusiva chantagem emocional, até entendermos que ela era uma pessoa solitária e perdida, a chance de criar uma empatia com ela passou batida.

 

Para além de toda a angústia da trama, “O garoto (quase) atropelado” é um livro musical, com direito a ícones do mundo deprê, Lana Del Rey, Imagine Dragons e Lorde. A grande sacada do escritor foi trazer para a história uma trilha pop atual e jovem em sincronia com as cenas. As letras não só casam acertadamente com o momento, como fazem parte da situação.

 

A escrita de Grossos é fácil de ler, as referências são atuais e providenciais para a trama. Mas a história é extremamente triste. Eu sempre avalio o meu momento antes de pegar qualquer livro para ler. Histórias tristes, dramas, costumam ativar gatilhos emocionais escondidos dentro de nós, por isso é importante ficar alerta. Fora isso, gosto muito da diversificação de temas que os autores nacionais têm apostado em suas obras, fugindo dos tradicionais romances e as melosas histórias de amor e trazendo temas difíceis de abordar, mas extremamente importante hoje em dia. Isso mostra que eles e o mercado editorial estão atentos as necessidades do leitor moderno.

 

? Trilha sonora ?

BRITNEY SPEARS | IT’S BRITNEY, BITCH

ECHOSMITH| COOL KIDS

IMAGINE DRAGONS | RADIOACTIVE

30 SECONDS TO MARS | UP IN THE AIR

MGMT | KIDS

SIA | CHANDELIER

ARCTIC MONKEYS | TEDDY PICKER

LORDE | TEAM

BASTILLE | THINGS WE LOST IN THE FIRE

TO LOVE | RABITS

WHITE LIES | TO LOSE MY LIFE

LADY GAGA E R. KELLY | DO WHAT U WANT

KATY PERRY | DARK HORSE

PINK FLOYD | DARK SIDE OF DE MOON

LEGIÃO URBANA | AINDA É CEDO

LYKKE LI | I NEVER LEARN

LANA DEL REY | WEST COAST

ARCTIC MONKEYS | YOU NO I’M NO GOOD

LYKKE LI | LOVE ME LIKE I’M NOT MADE OF STONE

SPICE GIRLS | WANABE

WHITE LIES | DEATH

 

⛺ Playslit da viagem ?

CHARLIE BROWN JR. | SÓ OS LOUCOS SABEM

LORDE | TENNIS COURT

AMY WINEHOUSE | TEARS DRY ON THEIR OWN

THE DOOR CINEMA CLUB | WHAT YOU KNOW

THE KILLERS | SMILE LIKE YOU MEAN IT

ARCTIC MONKEYS | ONE FOR THE ROAD

FLORENCE AN THE MACHINE | ONLY IF FOR A NIGHT

LANA DEL REY| BLUE JEANS

HURTS | SUNDAY

SNOW PATROL | CALLED OUT IN THE DARK

PARAMORE | AIN’T IT FUN

ECHOSMITH | COME TOGETHER

SIA | ELASTIC HEART

FOSTER THE PEOPLE | PUMPED UP KICKS

MARINA AND THE DIAMOND|POWER AND CONTROL

MGMT | TIME TO PRETEND

RIHANNA | LOST IN PARADISE

 

Esta coluna é publicada invariavelmente as segundas, porque às vezes o livro é bem grande (rs)

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Elis Rouse
Sou Elis, não sou Regina; sou do interior e amo a capital; sou jornalista, mas não trabalho em jornal; amo ler, sonho escrever; dicas vou dar, dicas quero receber; experiências vamos trocar; literatura brasileira vamos amar!