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As batidas perdidas do coração | Bianca Briones

As batidas perdidas do coração faz parte de uma série nacional da escritora brasileira Bianca Briones. A série, que já conta com cinco livros, apresenta histórias de amor com personagens genuinamente brasileiros, e que se entrelaçam em todos os livros.

As batidas perdidas do coração, assim como todos os livros da série, já te conquista pela capa, que entrega alguns spoilers interessantes. Um homem tatuado toca guitarra para uma menina com semblante triste, quase inocente. Essa é a representação perfeita do Rafael e da Viviane.

Os dois se veem pela primeira vez em um hospital. Ela, nos trâmites da liberação do corpo do pai, que perdeu a luta contra um câncer. Ele, acabou de perder quatro parentes em um acidente de carro provocado por um motorista bêbado. A visão de Viviane, com estereótipo sempre descrito como patricinha mimada, desde as roupas aos trejeitos, desperta repugnância em Rafael. Ela é rica e privilegiada, exatamente o perfil do motorista que matou seus parentes.

Os dois são profundamente e terrivelmente marcados pela morte, que é uma constante na trama, fazendo com que a leitura seja pesada e densa. Essas perdas mudam o rumo dos dois personagens, e refletem diretamente em suas vidas.

“Nossas dores, elas são iguais… Eu sinto o que você sente, e você sente o que eu sinto. As pessoas veem a morte e a aceitam de formas distintas, mas nós sentimos isso do mesmo jeito. Dói igual… Por mais incrível e maluco que possa parecer o que vou dizer agora, eu tenho sorte, porque neste mundo imenso, em meio a toda essa minha dor, eu te encontrei. Poderia ser muito pior sem você”. (pág.121)

Viviane é uma menina forte e determinada, apesar do estereótipo sempre reforçado na escolha de um look. Ela não é vulnerável, mesmo com toda a proteção familiar, em especial do avô controlador. Viviane esteve ao lado do pai em todos os momentos desde a descoberta do câncer, tratamento e morte. Agora, ela tem que lidar com a mãe, em depressão profunda depois que perdeu seu marido, e com o namorado, que sequer foi ao enterro de seu pai alegando que não poderia faltar ao estágio.

“Uma hora eu estava no shopping escolhendo roupas novas e no minuto seguinte estava acompanhando meu pai na quimioterapia, assinando os papéis no hospital, escolhendo seu caixão. Não quero ter de fazer isso por minha mãe. Não tenho mais forças para isso”. (pág. 143/144)

Rafael, antes de perder os parentes no acidente, já tinha sofrido o baque da perda do pai e da irmã. Isso fez com que ele mergulhasse fundo no mundo das drogas e desapegasse de praticamente tudo, mantendo apenas o trabalho com o amigo Lex e as raras visitas a mãe.

Um motoqueiro sexy e uma patricinha casca dura.

O que une o casal é a amizade entre o irmão de Viviane, Rodrigo, e o primo de Rafael, Lucas. Ambos também sofreram as perdas, e encontraram na amizade uma válvula de escape.

Entre Rafael e Viviane, nada de amizade, o encanto é mútuo, e a atração é imediata quando a barreira do preconceito é derrubada. A curiosidade de adentrar um mundo totalmente diferente, porém emocionalmente igual, faz arder a paixão entre dois.

“Quando a gente se conheceu, achei que era só mais uma dessas garotas mimadas, e mesmo assim ela mexeu comigo. Rolou uma atração muito forte entre a gente. De cara coloquei na cabeça que ela era brisa e eu furacão. Acabou que somos dois furacões colidindo”. (pág. 228)

Porém, apesar de inevitável, não é a família da moça que impede esse romance, é a vida que Rafael precisa desapegar para, enfim, dar uma chance a si mesmo. O estereótipo de bad boy é completamente verdadeiro em todos os sentidos, além de usuário de droga, ele é alcoólatra e tem histórico de violência. Seu passado é pesadíssimo, e perspectiva de futuro praticamente não há. É claro que Viviane é uma luz que iluminou o fim do túnel dele, mas, até onde vale a pena passar por tudo isso, quando, em um simples estalar de dedos, ela pode estar em outro país sem gastar um real?

As batidas perdidas do coração é um romance diferente. Na verdade, é um registro de um de processo de cura em que duas pessoas completamente quebradas, precisam de um conserto. É uma reflexão de como a dor de uma perda pode impactar e refletir de diferentes maneiras em cada pessoa.

É uma história de redenção, porém com um gatilho forte de vida real. Desses que funciona muito bem na literatura, mas, na realidade, a função de qualquer pessoa como “centro de reabilitação” é perigosa e audaz. O amor é capaz de mudar tudo, mas o preço, às vezes, é alto demais.

As batidas perdidas do coração vai te arrancar lágrimas, e te fazer refletir para além da trama dos personagens.

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Elis Rouse
Sou Elis, não sou Regina; sou do interior e amo a capital; sou jornalista, mas não trabalho em jornal; amo ler, sonho escrever; dicas vou dar, dicas quero receber; experiências vamos trocar; literatura brasileira vamos amar!