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Elisa de Sena: negra, periférica, mãe a única artista solo de Minas selecionada no Natura Musical

Muitos dos cantores nacionais que gostamos recebem apoio de um projeto bem bacana criado em 2005 pela Natura e, com certeza, você já deve ter ouvido falar dele. Trata-se do Natura Musical que, dese então, assume o desafio de fortalecer a produção cultural do país, além de contribuir para disseminação da música por todos os cantos. 

 

 

No último edital, tivemos uma mineira selecionada que já se prepara para o lançamento de seu primeiro álbum. O nome dela é Elisa de Sena, a única mulher artista solo a ser selecionada pelo projeto. Negra, mãe, da periferia e pós-graduada, começou a se relacionar com a música desde os três anos de idade, quando já participava de um coral da Igreja Católica. 

 

 

Minha relação com a música começou ali ao lado de minha mãe, Dulce,  que além de ser uma das responsáveis pelo coral era também integrante do movimento negro nos anos 80. Cresci ouvindo MPB no rádio que era ligado às 06h da manhã e que provavelmente só era desligado depois que eu já tinha ido dormir.

 

 

 

 

Continuando o seu processo na música, Elisa participou do projeto sócio-cultural Kilombola, uma iniciativa da banda Berimbrown, no bairro Goiânia. Também começou a fazer parte do Grupo Tambor Mineiro, de Maurício Tizumba, do qual ainda faz parte. 

 

 

 

Ouça “Magia”:

 

 

 

 

Coletivo Negras Autoras

Integrante e uma das fundadoras do Coletivo Negras Autoras, a artista conta que a participação fortaleceu o seu trabalho como compositora que já vinha sendo desenvolvido desde criança. “Tenho lembrança de escrever em prosa e poesia, de forma muito natural e descontraída, desde os 12 anos de idade. As melodias começaram a vir junto com a escrita desde os 20 e poucos anos.”

 

 

 

Representatividade 

Em tempos difíceis, uma mulher negra, de periferia, mãe é uma grande representatividade e resistência. Como ela mesmo afirma, “impossível separar minha arte do meu lugar de fala”. Impossível também deixar de fazer uma reflexão de como o seu trabalho gera certo envolvimento de pessoas que se sentem representadas. “Eu represento e também me sinto representada por muitas mulheres negras em diferentes instancias.  Minha música vem falar disso. De enraizamento na ancestralidade, de liberdade para voar e do direito de ser, estar e ocupar.”

 

Elisa também lembra da onda de retrocesso em que, não só o Brasil, mas que o mundo vive atualmente. “Há uma onda de retrocesso que insiste em querer anular os direitos que já foram conquistados. Isso não pode acontecer. E isso não vai acontecer, pelo fato de que muitas das nossas almas já são livres, e alma não é fácil de aprisionar… “

 

 

Arte, voz e corpo. São esses instrumentos que a artista usa e continuará usando para fortalecer a crença de liberdade. “Liberdade para falarmos e lutarmos pelo que quisermos, seja por direitos políticos, seja por justiça social, seja por respeito à diversidade, seja por amor.”

 

 

 

 

A única em Minas Gerais

Elisa foi a única artista solo de Minas Gerais selecionada no edital do Projeto. Concorrendo com 2.617 inscrições, ela comemora, encara a responsabilidade e ainda destaca a importância de projetos como esse. “Acho fundamental ter uma empresa tão alinhada com a cultura, com a diversidade e com a sustentabilidade. Sinto-me representando várias mulheres contemporâneas minhas em Minas que estão fazendo um trabalho maravilhoso que precisa ganhar o Brasil e o mundo. Eu quero abrir portas e quero que essas mulheres venham comigo.”

 

 

 

Além de destacar a importância sócio-cultural, Elisa de Sena também destaca um outro lado da produção cultural não tão lembrado pelas autoridades, o econômico. “É preciso lembrar que a cultura movimenta incrivelmente o mercado financeiro. Um projeto cultural conta com uma equipe de profissionais que são remunerados pelo seu trabalho. Gera serviço na criação, na produção, na técnica, na execução… é muita gentee muito trabalho envolvido.”

 

 

 

O primeiro álbum

Com composições que andam por seus sentimentos, vivências, feminino, negritude, ancestralidade, contemporaneidade, amores e transmutação, o álbum chega com 11 faixas. Sendo 9 músicas e 2 poemas com paisagens sonoras.

 

 

Uma cantiga do congado mineiro abre o disco, com participação de Tizumba. Seguindo das outras autorais, sendo duas em parceria com Baldaia e outra com Manu Ranilla. O álbum ainda ganha participação das cantoras Luedji Luna e de Késia Estácio.

 

 

 

Abusando de percussões, principalmente dos tambores de minas, e dos beats eletrônicos, o disco tem duas guitarras, baixo e synth completam o groove. A produção foi feita pela DJ Black Josie, gravado mixado e masterizado por Kiko Klaus.

 

 

A banda 

 

 

Elisa e Banda | Foto: Paulo Oliveira

 

 

 

Com uma formação inusitada a banda que acompanha Elisa e composta por duas guitarristas, Leticia Damaris e Gustavo Cunha; um baixista e violoncelista, Ricardo Campos;  a Dj Black Josie (que também é responsável pela produção do disco) e Manu Ranilla, que além de programação eletrônica, divide a percussão com Elisa de Sena.

 

 

 

 

Conheça Elisa Sena

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Youtube: https://www.youtube.com/user/elisadesena/featured   

Single “Magia”: https://www.youtube.com/watch?v=cuaEmKVxMsg

Spotify: https://open.spotify.com/artist/33l16BPoMAO3bgHH54VLaq?si=QB8RtmR2Su6-WO4-rJ9lKw

 

 

Foto em destaque: Paulo Oliveira 

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Charles Douglas
Virginiano, metropolitano de Ibirité, mas com a vida construída em BH, jornalista recém formado e apaixonado pelos rolês culturais da capital mineira. Está perdido no mundo da internet desde quando as comunidades do Orkut eram o Culturaliza de hoje. Quando não está com a catuaba nas mãos, pelas ruas de Belo Horizonte, está assistindo SBT ou desenhos no Netflix.