Cinema Colunas Luiz, Câmera, Ação Resenhas

Luiz, Câmera, Ação: Um Lugar Silencioso

Filme: Um Lugar Silencioso 

Gênero: Terror, suspense
Diretor: John Krasinski
Trailer:

 

 

Como o silêncio pode te assustar e te emocionar! 

 

Você é como eu: quer sempre buscar e viver experiências novas, mas detesta filmes de terror? Bom, acho melhor você reunir suas forças, embalar tudo num pacote de coragem, ir para o cinema e, com muita discrição e cuidado para não fazer barulho, assistir ao filme “Um Lugar Silencioso”, que anda fazendo o maior sucesso entre público e crítica.
 
Num futuro pós-apocalíptico não muito distante, onde a Terra foi invadida por monstros extraterrestres cegos (porém aniquiladores, tipo o Demogorgon de “Stranger Things”) e a população já foi quase dizimada, uma família tenta sobreviver de forma totalmente silenciosa. Esses invasores são capazes de captar qualquer barulho  e atacam a fonte sonora implacavelmente. Ou seja, a família, que vive em uma fazenda nos EUA (o milharal lembra muito o filme “Sinais”), não pode nem conversar, deve permanecer em silêncio absoluto a qualquer custo, pois o perigo ativado pela percepção do som é algo que não vai mexer só com os nervos dos personagens, mas com os seus também.
 
A família é composta por pai (John Krasinski, também diretor do longa), mãe (Emily Blunt, esposa de Krasinski), filho (o menino Noah Jupe, de “Extraordinário”) e filha (a atriz Millicent Simmonds, surda na vida real, de “Sem Fôlego”). O roteiro é muito bem feito e nada precisa ser explicado verbalmente: você vai captando tudo da trama, entendendo os perigos e percebendo que ninguém ali pode fazer nenhum tipo de barulho.
 
Inclusive, você mesmo precisa assistir a esse filme numa sala completamente silenciosa. As pessoas a seu redor no cinema também percebem isso, pois a maioria fica até constrangida com a possibilidade de quebrar todo aquele clima – mas sempre tem aquela chata comendo pipoca com a boca aberta ou o grandalhão abrindo e manuseando pacotes de salgadinhos e chocolate o tempo todo. Portanto, a dica é ir a sessões que você acredita que estarão mais vazias, como em meio de semana ou o mais cedo possível. A experiência, aqui, tem que ser plena, por inteiro: para o terror valer ainda mais a pena, os sustos serem ainda mais eficazes e sua imersão no filme ser ainda mais completa.
 
O silêncio está tão entranhado em “Um Lugar Silencioso” como a música está em “Baby Driver: Ritmo de Fuga”. E o trabalho de edição e mixagem de som das duas produções é impecável e bastante parecido, mesmo trabalhando com extremos opostos. A direção de arte, que coloca em evidência objetos e cenários que não podem emitir nenhum tipo de ruído, também é louvável. Você se contorce todo quando, logo no inicinho, uma criança aciona as luzes e o som de um aviãozinho de brinquedo, ou quando uma lamparina cai no chão e o tapete pega fogo, ou até mesmo quando um personagem pisa em cheio num prego e não pode gritar de dor. Trabalho digno de prêmios. Inclusive, quem sabe o filme de Krasinski é lembrado nas premiações do fim do ano, né? Emily Blunt, por exemplo, está no melhor papel de sua carreira. A mãezona do longa experimenta sensações extremas e com muita intensidade. Ela passa por momentos de desespero, força, medo, aflição, dor, coragem, tudo silenciosamente. Uma atuação de respeito! Um filmão de respeito!
 
Uma salva de palmas para John Krasinski, que, em seu segundo trabalho como diretor, já inova e acerta tanto. Um enorme desafio fazer um filme com diálogos quase nulos (os personagens se comunicam com a linguagem dos sinais) para, assim, o espectador conseguir apreciar o som de um modo genuíno, fidedigno. Em alguns pontos, a trilha até aparece, mas é só pra aumentar os momentos de tensão. Escutar e se encantar com o bater de um coração no estetoscópio, com os passos cuidadosos numa escada de madeira, com a música que sai baixinha no fone de ouvido, com o zumbido do aparelho auditivo ou com o som oco e nulo de quando a menina não o está usando, com a força de uma grande cachoeira ou com a água corrente e intermitente de um rio é mexer muito com a  emoção. O resultado desse suspense todo chega a transitar entre a comoção e a aflição, entre a percepção e a apreensão. É bom preparar o coração!
 
 
“Luiz, Câmera, Ação” é publicada neste espaço toda sexta-feira

Deixe o seu comentário

Charles Douglas
Virginiano, metropolitano de Ibirité, mas com a vida construída em BH, jornalista recém formado e apaixonado pelos rolês culturais da capital mineira. Está perdido no mundo da internet desde quando as comunidades do Orkut eram o Culturaliza de hoje. Quando não está com a catuaba nas mãos, pelas ruas de Belo Horizonte, está assistindo SBT ou desenhos no Netflix.